segunda-feira, 31 de julho de 2017
DITADURA INTELECTUAL
Encontrei-me pensando no anti-semitismo. E nessa vibração
mental, recordei-me de Julius Streicher (1885 - 1946),
um Nazi proeminente
antes e durante a Segunda Guerra Mundial, que publicava o
jornal Nazi "Der Stürmer".
Num artigo publicado no "Der Stürmer", de 19
de março de 1942, Streicher dizia que "Houve dois meios que poderiam ter
levado à libertação da Europa dos Judeus: Expulsão ou extermínio”. Quando penso
nesta citação, numa perspectiva analógica, penso no quão a “intelectualidade”
parece servir, nestes tempos, de uma bíblia usada para continuar a oprimir “indefesos
acadêmicos” que, no seguidismo
forçado e de cegueira sobre o que “academicamente” está na moda, descobrem-se
marginalizados e ao mesmo tempo vedados a possibilidade de revelar e defender
as suas próprias convicções, não só por causa, mas também pela “crença” da existência
de faraós intelectuais que ditam o que se pode ter como assuntos do dia.
Nota-se que quando rebusco Streicher, procuro
problematizar o separativismo, não territorial, mas “acadêmico” instaurado no
seio dos nossos dias, tal separativismo que faz-nos imergir num mundo onde a arrogância
e a astúcia caracterizam pessoas que na sua indubitável intelectualidade,
conseguem ser deuses e ao mesmo tempo profetizar cenários sociais, nos quais
somente serão incluídos os que estiverem roçados naquilo que ele (o
intelectual) acredita.
Uma vez Karl Barth dizia que “ a consciência é o
perfeito interprete da vida”. Pensando no tal pensamento, faço-me questionar
sobre a dependência psicológica/mental de alguns, que na euforia de um servo
que segue mandamentos de seu amo/colonizador intelectual, faz-se vibrar com lágrimas
de emoção gotejando sobre seus lábios, como se em si não encontrasse
criatividade mental para conhecer a vida, através da lógica do seu pensamento, dedicando-se
somente (talvez por coerção mental) no seguidismo daquilo que as metrópoles intelectuais definem como o
que melhor se pode ter como regra de vida/prioridades nacionais.
Se formos, por exemplo, a olhar para o cenário da
literatura moçambicana, encontramos diversas peregrinações e círculos de deuses
literários, que entre si definem o que é a literatura moçambicana e fazem-se de
dar o aval de quem pode ou não ser escritor. Ao mesmo tempo, encontramos uma
cegueira que dificulta os indivíduos a perceberem a necessidade de roptura do
famismo literário, para que se possa perceber que não é o prefácio assinado por
uma escritor famoso que dá o valor da obra, mas sim um prefácio (coerente) que
nos leve a essência do que é cantado na obra e nos leva ao encontro do mundo
que se descreve na tertúlia do livro.
Falo da literatura, assim como falo da academia, onde
a metropolitação da mente social faz-me perceber a necessidade da democratização do conhecimento social,
no sentido de darmos euforia aos “indefesos
intelectuais” para que por si, eles possam granjear certa originalidade,
que através daquilo que são seus ideais, consigam interpretar os cenários sociais,
sem que seja conotado erroneamente. Defendo
tal pensamento, olhando para uma sociedade que não consegue respeitar as
diversidades ideológicas, e por isso abre-se uma fenda para a existência de uma
guerra sequenciada, na qual uns tentam destruir os outros para ganharem
hegemonia e se intitularem a assembleia
da metrópole intelectual que define quem pode ser lido ou que opiniões, reflexões
e textos são de índole públicos.
É importante perceber-se que o maior perigo não é a política,
mas as mentes que fazem a política. Digo isto porque quando olhamos para a
política (como uma atividade) a associamos aos efeitos/acções dos que actuam na
política. Isto remete-me a defender a ideia de um cenário onde as “melhores
mentes sociais” são usadas para cegar a sociedade e por conseguinte ganhar afeição
dos demais para que possam adorá-las [as “melhores mentes sociais”] e seguir
com o seu vaticínio/evangelho intelectual, fundamentado num populismo
incoerente e muitas vezes dúbio.
Certamente que tal hegemonia da metrópole intelectual
resulta de uma ergofobia mental de indivíduos [sociedade] que mais preferem
continuar brincando com a idolatração de pensamentos, ainda que os mesmos não os
identifique: tudo na ideia de merecer um beijinho divinal/social do seu amo
intelectual.
Quando se pensa fácil na vida, a vida será difícil. Mas
quando se pensa duro na vida, há mais chances de ter uma vida fácil. E o
pensamento não aprisionado a ideias comuns, que não seguem com as convicções
pessoais, continuará sendo uma relíquia que amedronta, certamente, os que não tencionam
perder o poder intelectual.
Noto, com muita frequência, uma aparente existência de
“Stalkers” prontificados a garantir que pensamentos, de muitos “intelectuais”,
atinjam o maior número de pessoas que possam existir socialmente, incluindo nas
redes sociais, ainda que tais pensamentos ofusquem a real dinâmica dos factos
quotidianos.
Nos deparamos nos dias de hoje (modernidade?) com
muita incompetência intelectual que marginaliza a liberdade de pensamento de
muitos “indefesos mentais” que facilmente caem nas armadilhas psicológicas, sem
sequer saber perceber que na armadilha se encontram ou que perderam a sua
liberdade de pensar, preferindo permanecer no “escovismo” de que provavelmente lhes garantirá alguma benção do
soberano, seja político ou intelectual que “bate - famoso” nas redes sociais e
é o mais citado em conversas dos becos da esquina da mana Julieta onde vendem Totonto (bebida fermentada) e Phombe que mais dizimou gente do que a
peste.
Muitos não conseguem manter o aprendizado sem permitir
ser manipulado, quebrando, desta forma, a ideia segundo a qual o mundo foi
criado para moldar caracteres. Ou melhor, notamos existência de mais sósias do
que mentes que fazem diferença e nos levem a um pensamento de que não precisamos
sempre debater política, porque há direitos humanos que podem ser debatidos sem
essencialmente focalizar-se na política.
Se fosse para seguirmos o que todo mundo diz/quer, então
Henry Ford não teria sido o bom empreendedor que foi (ao criar os automóveis “FORD”
e desenvolvido a mecânica do trabalho), assim como A. Einstein não teria sido o
grande físico que desenvolveu a relatividade geral ao lado da mecânica quântica
(pilares da física moderna). Tudo cinge-se em perceber que a mente não pode ser
facilmente algemada por aquilo que lemos, ouvimos ou nos forçam a tomar como o “assunto
do dia”. Então, pode-se, neste sentido, dizer que não podemos mudar mentes se não
conseguirmos mudar as nossas [mentes].
Nunca será possível libertar a mente enquanto se for
um replicador de ideias, assim como nunca se perceberá que intelectual/acadêmico/opinador
social nunca serão verdadeiros enquanto não perceberem que é preciso acordar
cedo e tentar esvaziar o oceano com uma chávena. Ou seja, é preciso que o fazer
diferente seja um termômetro que nos permita descobrir a originalidade e a
autenticidade dos que se inserem na metrópole intelectual.
Esta ditatura intelectual da qual me refiro é uma
ditadura que obriga, impere e influencia no que se deve pensar, definir a actualidade,
ou ainda, limitam gente a pensar. Mas ao mesmo tempo revelam recicladores
intelectuais que somente dedicam-se a refabricar
ideias/ideologias.
Assim como George Kettering frisou, ao dizer que “o
mundo não gosta de mudanças, mesmo sabendo que é isso que sempre trouxe
progresso”, acredito ser preciso libertar-se do senso comum/doxa e perceber que
a verdade absoluta (do dogmatismo de Decartes) é questionável se formos a ler
pensamentos de Pirro (in Cepticismo), o criticismo de Kant ou ainda o
relativismo dos sofistas quando afirmam que “cada indivíduo possui uma verdade”,
ou seja, a liberdade e democratização psicológica existirá quando percebermos
que “uma jornada de mil quilômetros começa com um único passo” conforme nos
mostra Lao Tzu.
No pensamento de Streicher quando diz que "Houve
dois meios que poderiam ter levado à libertação da Europa dos Judeus: Expulsão
ou extermínio!”, encontro uma ligação com o estágio actual do pensamento
social, no qual quem pensa diferente é retirado do círculo dos famosos, é
conotado como opositor (note-se que falo de opositor não na perspectiva política),
e é deixado de lado, rejeitado do “pensamento social” - tal pensamento da
metrópole intelectual. Mas que ridículo é quem pensa que lhe serviremos e nos
seus pés ajoelharemos a pedir uma misericórdia intelectual, como se de algum
deus se tratasse.
Há mentes brilhantes? Claro que sim. E é nessas mentes
brilhantes, não metropolitanas que encontramos “refúgio” para pensar e nela
encontramos alicerces que ajudam-nos a melhor concebermos e percebermos o mundo
e suas metamorfoses. O resto? Que se danem os aglomerados em capelas da ignorância
e da fama/elite acadêmica que lhes inibe de serem imparciais e academicamente
humildes, o suficiente para perceberem que o mundo é feito de diversidades e não
de um único cérebro. E a malta que só segue e bajula em “likes” dos famosos “posts”?
Esses que encontrem a luz como a revelada em Alegoria da Caverna de Platão (In
A República) – não temam a luz, nem de ficarem cegos - e descubram a essência de
pensar diferente, ser original e não psicologicamente acorrentados.
Termino dizendo que a criação (existente) de uma metrópole
hegemônica [social] do conhecimento reduz muitas das vezes a qualidade do
produzido, porque encontramo-nos numa realidade em que gente se afama numa
opacidade intelectual, literária, acadêmica que divulga excretos mentais deficitários
de verdades, substância e visão progressista, o que remete-me a David Hume (In
Critica da Razão Pura) quando desafia-nos a perceber os eventos do mundo para
podermos encontrar a verdade.
Sérgio dos Céus
Nelson
Sobre o autor do blog
Sérgio dos Céus Nelson
Communication Officer at Lúrio University Journalist. Freelancer. Activist of Human Rights. Photographer
Communication and information specialist. Journalist. Writer. Screenwriter. Researcher. Motivator. Volunteer.
Founder of the Association of Environmental and Human Rights Journalists - AJADH and the Literary Association of Arts and Culture of Mozambique (ALARCUMO).
Contact: (+258) 829683204 or 846065018/879877312
Skype: Sérgio dos Céus Nelson
Journalist with Honorable Mention in the International Prize for Human Rights Journalism, by the Association of Public Defenders of the State of Rio Grande do Sul (ADPERGS) - Brazil.