domingo, 27 de agosto de 2017

GUIONISMO

Escrito por Sérgio dos Céus Nelson[1]
Foto: Google
Contar as realidades a partir do cinema continua sendo um grande desafio para o que ansiamos ser o “cinema moçambicano[2]”. É fácil acreditarmos que tudo está indo muito bem que acabamos esquecendo das coisas básicas que nos poderiam garantir profssionalismo, pelo menos ao  nível do cinema africano. Digo isso porque a dirrecção (produção) é mais importante do que a velocidade de querer ter tantos filmes, mas que tais ostentam graves delírios e falta de estrutura no que se escreve e confusiona a sociedade sobre a história contada.

1.      Guião/roteiro
Para começar acredito ser importante problematizar alguns pontos: Roteiro, guião, argumento. Será que essas palavras dizem a mesma coisa? Claro que não. É preciso antes percebermos que guião (português europeu) e roteiro (português brasileiro) são a mesma coisa, apenas são palavras ditas em realidades diferentes, porém, roteirista e guionista são a mesma coisa. Quanto ao argumento falo disso mais tarde.
Falar do guião é referir-se a um papel/documento que é escrito, descrevendo de forma sequenciada as cenas que compõem um filme, apresentando diálogos, acções dos personagens e aspectos referentes ao vídeo e áudio (aspectos visíveis e audíveis). Ademais, o guião serve como um instrumento director nas produções cinematográficas. Apesar de levar-nos até a produção do filme, é importante percebermos que guião não é filme, pois ele mostra/informa sobre os momentos, lugares das gravações, etc.
Para um guião chegar ao ponto final que é o filme, ele não se pode ignorar de passar por maos como as do:
·         Guionista: Escreve, conta a história dos personagens, explorando situações, conflitos e ideias imaginárias de ímpeto criativo,
·         Produtor: Estima o orçamento da produção, obtém o financiamento, procura co-produtor (es), actores, alicia realizadores, procura perceber se o guião pode ser trasnformado em filme, claro, olhando para os apectos artísticos/criativos,
·         Leitores: São os que olham o roteiro/guião na posição de quem no futuro poderá assistir o filme. São essenciais porque “atencipam” as críticas dos expectadores,
·         Realizador: Lidera a equipe que produz o filme, olhando para três (3) aspectos que para ele são essenciais num guião: Artístico ( analisa a criatividade, aspectos da criação do roteiro e a sua essência/estética), técnico (a possibilidade de produção e suas facilidades) e pessoal (procura saber se o guião é de mais-valia para o seu curriculum como realizador),
·         Financiadores: Procuram ver a viabilidade do guião ser transformado em filme e analisam as possibilidades comerciais, no sentido de vender a sua imagem através do filme,
·         Actores: Procuram sempre olhar para roteiros que lhes vão proporcionar um perfil artístico respeitavel e profissional,
·         Equipe técnica (Directores de fotografia, assistentes de realização, Directores de arte, etc): olha para o guião como guia/instrumento de trabalho que orienta suas funções,
·         Director: conduz a produção do filme.
Apesar de existir esta linha de produção ou seguimento do roteiro (que não é obrigatória), nota-se que cineastas continuam ignorando a ideia de que um roteiro/guião precisa ser debatido, partilhado antes de ser trasnformado em um filme. Por mais que se negue, é somente através da interacção que se poderá garantir que o guião tenha qualidades necessárias para ser transformado em filme. Fazer filmages, ter o filme nas telas, não significa em nenhum momento qualidade do filmado, porém, ajuda a sociedade a avaliar o tipo de guionista que se tem.
Nos processos de criação de um filme, dos quais destaco:
·         A definição da orientação artística geral que caracterizará o filme no seu todo;
·         A análise e interpretação do roteiro do filme, adequando-o à realização cinematográfica;
·         A direcção das interpretações dos actores, tanto sob um ponto de vista técnico (colocando-os em determinado local e enquadramento) como de um ponto de vista dramático, solicitando o género de emoção pretendida para a personagem;
·         A organização e selecção dos cenários do filme;
·         A direcção dos meios técnicos (sonoplastia, iluminação, enquadramento);
·         Escolha da equipe técnica e do elenco (em alguns casos, apenas);
·         Supervisão dos preparativos da produção;
·         Escolha de locações, cenários, figurinos, cenografia e equipamentos;
·         Direcção e supervisão da montagem, confecção da trilha musical e sonora (em Portugal: banda sonora),
·         Processamento do filme até a cópia final;
·         A confecção do trailer,
É preciso perceber-se que deve haver uma “cumplicidade” na equipe de produção do filme, por exemplo desde o roteirista versus realizador ou produtor, para que a obra cinematográfica seja executada de forma profissional possível. Falo de por exemplo, tendo em conta os apectos humanos, técnicos, dramáticos e artisticos, saber-se que fazer um filme sozinho pode acarretar um sonho de ser cineasta ridicularizado por não conter aspectos importantes para uma garantia de qualidade cinematográfica.
Muitas são as ideias de tipos de roteiro/guião, mas é importante perceber que há duas perspectivas para perceber-se um guião:
·         Pessoal/especulativo: produzido por iniciativa do autor,
·         Comercial: produzido por encomenda ou por ordem da organização onde o guionista/roteirista trabalha,
É também possível encontrar em manuais o chamado de roteiro de rodagem/shooting script que é na verdade o mesmo que dizer um roteiro analisado depois de escrito pelo autor e outros elementos da equipe de produção.
Produzir um guião significa, ao mesmo tempo estar atento as outras áreas de conhecimento. Por exemplo, olhar para o guião na perspectiva da semiótica permite perceber se o guião ou as cenas do guião contem indicações ao expectador e se o mesmo poderá facilmente interpretar o que lhe for mostrado.
Muitos cineastas/produtores de cinema/roteiristas às vezes preocupam-se apenas em filmar...filmar e filmar. E nesse processo esquecem-se dos factores motivacionais que não só antecedem, mas também fazem parte do produto final do filme. Há muitos filmes, particularmente moçambicanos, que neles se pode ver erros nos planos, falta de sequência do próprio roteiro, sem falar da descontextualização notável da narrativa.

2.      Argumento
Conforma falava acima, roteiro e guião é mesma coisa, porém, o argumento é a ideia sobre a sequência dos actos e acontecimentos que serão o roteiro. O argumento não é dividido em cenas nem inclui diálogos.
Exemplo: São cinco horas da madrugada, Sailina ENTRA na sala com um olhar triste e aborrecido como se tivesse visto a alma das suas dores. Sentada no sofá vermelho e acadabo da sua sala, fecha os olhos, triste, como se chamasse a morte ao seu encontro.
3.      O guião no olhar do mundo
Syd Field, roteirista e consultor da Hollywood diz que um bom guião deve sempre apresentar três (3) pontos cruciais:
3.1. Personagem
Resumidamente é aquele que vive os momentos e lugares da história. Porém, este personagem pode ser visto em diversas pérspectivas:
·         Protagonista ( o herói ou a figura principal do filme),
·         Co-protagonista (aquele que ajuda o protagonista a alcançar o seu rumo/objectivos,
·         Antagonista (o mau da fita, o vilão),
·         Co-antagonista (aquele que ajuda o vilão a ser mais vilão),
·         Coadjuvante/personagem secundária (aquele que por vezes a presenta um papel diferente do vivido na história),
·         Figurante (pessoas que aparecem “despercebidas” no filme).
O personagem pode ser também compreendido quanto a existencia:
·         Real/histórica: que existe/existiu ou baseada em factos históricos,
·         Ficcional: criados pela mente do autor.
NB: Em alguns manuais pode-se encontrar personagem real-ficcional, ficcional-real, etc.
3.2. Estrutura
Segundo Field, o guião deve (1) introduzir o filme, (2) desenvolver o filme e (3) fazer o desfecho da história do filme.
3.3. Enredo
Enredo é relativo as acções dos personagens afim de criar emoção no expectador. É na sua essência o esqueleto da narrativa[3]. O enredo pode ser organizado de várias formas:
·         Situação inicial: O que lhe é mostrado no princípio, ou a apresentação do personagem, lugar, etc,
·         Quebra da situação inicial: acontecimento que modifica a situação apresentada,
·         Conflito: surgimento de uma situação a ser resolvida,
·         Clímax: momento de maior tensão da narrativa,
·         Desfecho: solução (ou não) do conflito, podendo apresentar um final feliz ou antagónico.

4.      Roteiro de quadradinhos
Este tipo de roteiros apresentam/descrevem balões de conversas ou o story-board [4]e na sua distinção pode-se subdividir em:
·         Full script: descreve toda história página por página, acções dos personagens, fundos, legendas, balões de diálogos, etc
·         Plot script: neste estilo há predominância do ilustrador que trabalha a partir duma sinopse da história em vez do roteiro completo, adicionando detalhes ao trama.
Falar do guiaã/roteiro implica, certamente, falar do cinema para, pelo menos, perceber que o cinema surge da fotografia (animada). Na verdade foi no seculo XIX, em 1895, que os irmãos Lumiére (París) apresentarama filmes de curta duração (40-50 segundos), porém, antes deles é importante lembrar do William Dickson [5] que captura a imagem em movimento em 1889 com a criação do cinestocóspio. O cinestocóspio veio a sofrer mudanças em 1892 por Leon Booly ao criar o cinematógrafo, apesar de este ter perdido a patente do cinematógrafo aos irmãos Lumiére.


[1] Sérgio dos Céus Nelson, autodidata, é Licenciado em Jornalismo, formado em guionismo,  pesquisador e amante do cinema, tendo já alguns roteiros escritos, ainda que nunca apresentados publicamente.
[2] Cinema moçambicano: acredito ser ainda prematuro falarmos de um cinema moçambicano, porque precisamos melhorar significativamente diversos aspcetos no que tange as nossas produções versus profissionalismo cinematográfico.
[3] Narrativa: é a exposicao dos factos relativos ao que é contado. Os elementos da narrativa podem ser: facto, accao narrada, tempo (linha temporal), lugar, personagem, causa, modo, consequencia, etc.
[4] Story-board: é essencialmente o mapa dos acontecimentos.
[5] William Dickson foi assistente do cientista e inventor Thomas Edison.

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Frente aos factos

Sobre o autor do blog

Sérgio dos Céus Nelson

Communication Officer at Lúrio University Journalist. Freelancer. Activist of Human Rights. Photographer

Communication and information specialist. Journalist. Writer. Screenwriter. Researcher. Motivator. Volunteer.

Founder of the Association of Environmental and Human Rights Journalists - AJADH and the Literary Association of Arts and Culture of Mozambique (ALARCUMO).

Contact: (+258) 829683204 or 846065018/879877312

Skype: Sérgio dos Céus Nelson

Journalist with Honorable Mention in the International Prize for Human Rights Journalism, by the Association of Public Defenders of the State of Rio Grande do Sul (ADPERGS) - Brazil.

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