quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

DESAFIOS DO MUNDO NO SÉCULO XXI

= Do contrato social de Rousseau a descoberta de um novo mundo=

Com o advento dos novos cenários mundiais, o indivíduo passou a ser conhecido dentro de uma colectividade, mas também de forma individualizada, olhando para a sua capacidade de se identificar no meio de uma multidão. E nesse processo, problematizar a essência do indivíduo tem mesmo a ver com a necessidade de perspectivar o seu comportamento, olhando, claro, para a forma como o mundo nos desafia a definir um novo contracto social.

Falar do contracto social significa, essencialmente, referir-se a ideia de que todos os homens entregam uma parte igual de sua liberdade para uma única autoridade, que governará a todos em condição de “igualdade”. Porém, importa referir que tal cedência quando não respeitada, quando os indivíduos veem seus esforços colocados a prova, acabam desembocando numa desobediência civil, tal desobediência que dela abre-se espaço para a recusa efetiva em obedecer certas leis, exigências ou ordens de um governo, assim como forças de ocupação, mesmo que isso não resulte em violência física.
Um exemplo fora das portas sobre a desobediência civil é o caso da luta contra a colonização britânica na índia, mas também podemos olhar para cenários do rompimento com o artigo 41º da Constituição da República de Moçambique, que preconiza o direito a honra e o bom nome, reputação, defesa da sua imagem pública e reserva da vida privada. Tal direito que tem sido esfaqueado quando a sociedade, por exemplo, por se achar/sentir/estar oprimida (politicamente), revolta-se contra os seus dirigentes e os chama de nomes que os convier. É claro um caso de reflexão, até porque o artigo em causa deveria preconizar a ideia de que o bom nome devia ser algo merecido e que resultasse dos bons actos que os indivíduos mostram a sociedade.
Falar da desobediência civil significa remontar a Henry David Thoreau que foi o primeiro a estabelecer a teoria relativa dessa prática em seu ensaio (intitulado "Resistência ao Governo Civil", que mais tarde reintitulou "Desobediência Civil") de 1849.
No ensaio, Thoreau fazia predominar a ideia de auto-aprovação e de como alguém pode estar em boas condições morais, enquanto "escraviza ou faz sofrer um outro homem"; o que o fez acreditar que “então não precisamos de lutar fisicamente contra o governo, mas sim não apoiá-lo”. Esta perspectiva desafia-nos, de certa forma, a repensar, também, na essência da formação dos nossos governos e também em como a sociedade pode/deve demonstrar a sua visão sobre como é liderada.
Exemplos práticos a nível mundial sobre a desobediência civil podem ser vistos em Mahatma Gandhi que usou a desobediência como ferramenta anticolonialista, Martin Luther King que adoptou técnicas da desobediência civil, tanto durante quanto depois da Guerra do Vietnã, para lutar contra os direitos civis, assim como Nelson Mandela que “infringiu” leis para lutar contra o apartheid.
Falar do contrato social de Rousseau (1712-1778) que nos desafia na criação de sociedades livres e igualitárias significa, ao mesmo tempo, falar de um provável rompimento, senão transcendência, do pensamento de Rousseau a descoberta de uma nova forma do contrato social. Ora, estamos num cenário em que a igualidade é condicionada e trancafiada, e indivíduos perdem suas liberdades quando injustamente são presos e condenados a perpétua. Então, esta perspectiva mostra-nos, hipoteticamente, que Rousseau falara de uma liberdade incondicional. Tal liberdade que, a atualidade mostra-nos que é ganha e depois tirada.
Há cerca de 250 anos, Rousseau publica bases do direito político universal contra os estados sem liberdade civil e política que predominavam na época (Do contrato social ou princípios do Direito político). Interessante que ele, num dos seus escritos, dizia que “o Homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”. Então, isto significaria repensar em como proteger este Homem que nasce bom para que não seja corrompido pela sociedade. Ou, poderíamos questionar se realmente os Homens são bons quando nascem ou se ao nascer trazem consigo atitudes maldosas que estragam o mundo.
Se assim pensarmos, diríamos que o Homem quando nasce distorce a paz mundial ou traz para o mundo mais um pouco da sua maldade que rompe, por exemplo, com os princípios éticos das sociedades.
Sem dúvidas que uma das revoluções que me marcam é a revolução francesa de 1789 que prisava a luta, pela liberdade, igualdade e fraternidade, um acontecimento que reforça “O contrato social” de Rousseau, publicado em 1762, que delineia a base de uma ordem política legítima.
Apesar de ter sido condenada em Paris (no parlamento), a obra, baseada em sua obra anterior sobre “Discussões sobre a desigualdade”, Rousseau mostra-nos/supõe que o estado da natureza degenerado numa condição embrutecida sem lei, nem moralidade, precisaria que fosse direcionada a fim de preservar a igualdade e liberdade. Ademais, ele defendia/acreditava que ao associar-se através de um contrato social, os indivíduos associados alienam seus direitos ao recém-formado corpo político.
Tal alienação, segundo Rousseau, seria vantajosa, “pois que se forma aqui um novo corpo, indivisível e com vontade própria, assim qualquer dano ao corpo será um dano a todos, e qualquer vantagem ao corpo será uma vantagem a todos, logo ninguém desejará prejudicar os demais”. Porém, ele volta a opor-se ferozmente à ideia de que as pessoas devem exercer a soberania através de uma assembleia representativa, porque a soberania é inalienável e indivisível. E
Esta perspectiva de Rousseau, que mostra-se nalgum momento atemporal, (digo atemporal olhando para a forma de actuação das sociedades ou governos) mostra que a ideia de um corpo indivisível, nunca foi possivel e para que seja, será preciso a reconstrução da mentalidade social para perceber que a essência da formação dos governos tem mesmo a ver com a integração do cidadão na contrução de ideiais para a solidificação de um estado ideal. Prefiro não dizer estado de direito democrático, porque a ideia do democrático precisa, provavelmente, um pouco mais que eleições para definir transparências.
Falar de uma provável transcendência do pensamento de Rousseau ao encontro de um novo mundo significa acreditar que não basta apenas que o indivíduo se abstenha de uma parte de sua liberdade para que seja governado em igualdade. É preciso olhar para a injustiça, por exemplo, onde notam-se atropelos que provam o quanto se hipoteca uma liberdade, tal controlada por um soberano que posteriormente te pode derrubar, ou ainda, esquecer que um dia decidiste deixá-lo governar e fazer-te sonhar num mundo mais “igualitário” ou melhor.
Certamente que remontar a Rousseau significa acreditar naquilo que eu chamaria de utopia das sociedades modernas. Digo utopia no sentido de que o indivíduo como parte de uma sociedade faz-se acreditar na ideia de que ser liderado (politicamente) deixará sua vida nas mãos de quem a poderá gerir da melhor forma. Ora, a actualidade reveste-se de graves problemas que nos desafiam a pensar se uma sociedade como a moçambicana estaria pronta para viver o contracto social ou se redefinimos o contracto social e o perspectivamos no modelo que se adequa àquilo que são os anseios de uma nação em crescimento.
Quando falo da sociedade utópica, falo da mera crença popular, por exemplo, que faz gente acreditar que o voto é o melhor modelo para eleger-se um representante do povo, como se pensássemos que a democracia da qual falamos hoje chegasse a ser o suficiente para a resolução dos problemas socio-políticos das sociedades. Me refiro claro a necessidade de repensarmos num modelo que faça da democracia algo mais imperativo, inclusivo, verdadeiro e acima de tudo imparcial. Mas tal ideal deveria, pois, trazer na sua génese o pensamento de que as sociedades são diferentes e com isso o modus vivendi das comunidades não se podem apenas assemelhar ou comparar com outras para criar soluções internas de cada povo.
É indiscutível que  ainda não conseguimos definir o melhor modelo que regule as  sociedades e isso vamos, obviamente, fazer com o andar dos tempos. Se agora vemos uma realidade norte americana que nos desafia ou “ridiculariza” a nos definirmos,  significa, conforme Raymond Aron (In A paz e Guerra entre as nações) nos assegura, que precisamos fazer valer as relações bilaterais ou diplomáticas que existem nos nossos países. Ou seja, Aron nos faz perceber que são relações de interesses que ligam povos e não relações de “hospitalidades”. Talideia poderia, de certa forma, nos desafiar a definirmos o nosso valor e capitalizarmos os nossos recursos internos para que possamos, não só merecer reconhecimento, mas também nos impormos no panorama mundial.
Um filho não tem (pode não ter) muito a discutir com sua mãe caso ela não quiser lhe dar o leite. Esta analogia reveste-se na ideia de que um país “totalmente” dependente do outro não tem como se impôr ou rebeliar-se. É preciso que se crie uma autonomia, liberdade para começar a discutir os seus reais valores.
Ao ler Paul Blustein (VEXAME: Os bastidores do FMI na crise que abalou o sistema financeiro mundial), por exemplo, percebemos a ideia de uma dependência financeira dos países (que ajoelham a FMI) que põe em causa a estrutura do desenvolvimento das nações. A este ponto me coloco a pensar na ideia de revitalizar, investir nos que capital interior, “libertar-se” da dependência, como forma de poder discutir, defender-se, sem medo de criticar o outro país por medo de ser limitado as ajudas. No fundo, as ajudas, isso são o que limita alguns países a se imporem e deixam-se a mercê de atitudes que ridicularizam/desafiam  os seus valores.
Esta ideia de debater Rousseau signifca acreditar na mudança dos cenários mundiais. Significa acreditar que podemos não estar ainda preparados para perceber o novo mundo que já se aproxima. Como podemos perceber, estamos quase na metade do século 21 e isso significa que é preciso estruturar-se uma nova forma de perceber e conceber o mundo.
Quando lemos os avanços da neurociência, por exemplo, nos deparamos com uma “nova” realidade que nos faz perceber que os sentimentos são, significativamente, os “motivos-mãe” que ditam a atitude/decisão tomada por alguém. Ou seja, a neurociência nos faz perceber que na mente temos apenas o encéfalo, mas o cérebro que pensa está numa posição cardíaca chamada de “cérebro do coração”.
Estas perspectivas remetem-me a pensar na evolução criaconista como forma de perceber que estamos a criar novo tipo de gente e isso nos desafia a nos reconstruirmos como humanos, revisionar o passado para melhor poder escrever o futuro.
Haverá, certamente, uma época (nas próximas gerações) onde não vamos debater as “raças”, mas talvez procurarmos hackear a vida e comportamento humano para percebermos os factores que estão por detrás das diferenças ou da nossa definição como seres humanos.
Karl Bath dizia que a consciência é o perfeito intérprete da vida”, tal pensameto que nos desafia a pensar no rumo da vida e não apenas viver os cenários da vida. Vivendo, apenas, os cenários da vida podemos não perceber que as mensagens curtas (resumidas) que se escrevem ultimamente, como por exemplo “pk” ao invés de “porque” podem significar o avanço da linguagem, afinal ela nunca esteve estática, mas sim dinâmica.
Assim como notam-se as incompatibilidades entre a psicanálise (que mostra-se obsoleta), psicologia e gestalt, o mundo precisa ser redifinido, assim como precisamos parar de temer a nudez porque no fundo todos nós estamos nus debaixo das nossas roupas.
Não tem como debatermos um novo contrato social sem sequer debatermos o mentalismo, as classes sociais de Weber, fazermos uma análise profunda da psicologia comportamental para perceber a origem e motivos das atitudes humanas, porque acredito que o indivíduo não é na essência definido por aquilo que pensa, mas sim por aquilo que ele acredita que lhe pode fazer alcançar um objectivo pretendido.
Assim como, nos ultimos tempos, as mulheres investem mais em criar/adubar bundas para agradarem e chamarem atenção dos homens (garantir um lar), ao invés de cultivar conhecimento (sapiossexualidade), é também preciso perceber que crianças não nascem inocentes, elas apenas não sabem como demonstrar os seus sentimentos (até os maléficos).
Tudo parte da necessidade de compreender os cenários, as atitudes, o consciente, para que se possa olhar para um novo mundo, mais inteligente, e quiça interactivo onde definiremos que só será cidadão (ideal) aquele que for interactivo, lutando para o bem da sua sociedade e que acima de tudo tenha a lucidez suficiente para ler o mundo e nesse processo definir novas políticas de vida, à semelhança teoria bismarquiana que defende que quem não paga impostos não pode ser considerado cidadão.
Provavelmente seja hora de deixar por agua baixo o pensamento de Darwin quando diz que os que sobrevivem são os mais fortes. A realidade mostra que são os mais espertos e infratores que sempre se saem bem.
A existência do Homem pressupõe alteração e mudanças no seio em que ele se encontra (no mundo) e isso deve-nos remeter a pergunta: “que tipo de cidadãos precisamos nos próximos tempos (século 21/22)”?
O próximo mundo será definido por cidadãos ativos que sabem se definir. Alienados do convivio social serão os que não puderem se contextualizar e se definir como gente. Mas é claro que para transitarmos do contrato social de Rousseau para o novo mundo, teremos que ultrapassar as nessidades humanas básicas não garantidas como as guerras econômicas, redefinir a ordem mundial, debater crises sociais, a moral, costumes, etc, pois a definição da ordem mundial vai sem dúvidas ditar o novo contrato social, acredito.
O Homem precisa pensar em que passo deverá dar nos próximos tempos. É preciso acreditar que a mudança dos cenários mundiais nos desafia a desenhar um novo plano de vida mundial, mas que tal plano tenha que incluir todos cidadãos mundiais, provavelmente emergir no conceito de uma “sociedade global” (como como ela seria se há uma disparidade mundial naquilo que sao os conceitos/prioridades de cada país?). Ou deveremos emergir a um modelo de sociedade interactiva/participativa que seria definida pela capacidade que cada povo tem de se definir perante o outro, ou melhor, os indivíduos mereceriam o título de “cidadãos” caso demonstrassem o seu valor participativo na construção de uma sociedade ideal.
Assim como o conceito liberdade deixou de ser apenas ligado a libertação da escravatura, o conceito do mundo/novo mundo precisa ser reescrito e debatido, para que as novas dinâmicas da nova sociedade não nos surpreendam de forma trágica.
Se formos a ler os actuais cenários, podemos perceber que estamos numa realidade em que ainda negamos, por exemplo, as revoluções tecnológicas, negamos que a internet é um novo modelo para gerir o mundo, talvez porque ainda não temos a capacidade cognitiva de saber lidar com as redes sociais. Ou seja, esta nova sociedade da qual hipoteticamente falo, ela desafiará que cada um se posicione e saiba definir-se no meio de tanta inteligência, tanta mudança, sem que use do meu medo do desenvolvimento para negar a evolução. Estou sim a dizer que o novo mundo poderá, provavelmente, ser uma sociedade de competições, onde aí sim, conforme Darwin nos ilucida, somente os fortes serão vitoriosos.
MEDEIRO (2016) dizia que o indivíduo que se anula perante a coletividade não se faz partícipe do processo, não assume seu papel de ator social. Isto remete-me a duas abordagens: uma que me fez discordar, se formos a perceber que às vezes é preciso se anular da colectividade para saber definir-se, mas também concordando, se for a acreditar que só estando na colectividade poderemos perceber os reais dinamismos da vida e consequentemente sabermos nos definir, sem fugir daquilo que a sociedade chama de regras de convivência social.
Acredito que estamos ainda um estágio de inteligência pausado, estático, que ainda não nos possibilita ver as coisas numa perspectiva maior e consequentemente ignoramos as novas ideias das mentes que conseguiram transcender do estado de pausa para um estado ou de participação ou de interacção e execução.

Sérgio dos Céus Nelson

- Pensando num novo mundo -

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Frente aos factos

Sobre o autor do blog

Sérgio dos Céus Nelson

Communication Officer at Lúrio University Journalist. Freelancer. Activist of Human Rights. Photographer

Communication and information specialist. Journalist. Writer. Screenwriter. Researcher. Motivator. Volunteer.

Founder of the Association of Environmental and Human Rights Journalists - AJADH and the Literary Association of Arts and Culture of Mozambique (ALARCUMO).

Contact: (+258) 829683204 or 846065018/879877312

Skype: Sérgio dos Céus Nelson

Journalist with Honorable Mention in the International Prize for Human Rights Journalism, by the Association of Public Defenders of the State of Rio Grande do Sul (ADPERGS) - Brazil.

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