quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
E se as políticas africanas fossem eficientes?
Me coloco a pensar se é
efectivamente a fome/pobreza que torna os chefes (comumente chamados líderes –
o que pode não transfigurar a verdade) figuras viciadas no poder, fazendo da
sua governação um verdadeiro atentado, aos principios éticos-morais, que
atropela e desestrutura a paz nas sociedades, condicionando desta forma a
progressão dos estados e dos indivíduos que vêem sua vida hipotecadas pela falta
de liberdade de expressão, rotura aos direitos fundamentais, estereótipos e
guerras raciais, entre outros pressupostos que o tornam os indivíduos alienados
no convívio social, à semelhança da divisão da África pela epidemia do Mapa
cor-de-rosa.
Pensar na fome como a razão da
deficiência da gestão de um governo, por parte dos dirigentes/chefes, é aceitar
que da pobreza se criam ladrões. E com esse pensamento não corroboro, porque,
se formos a analisar: Há casos de famílias que dormem esfomeadas, e dia
seguinte, no caminho pelos seus afazeres, cruzam bancas nas quais vende-se
comidas e outros alimentos, mas mesmo com a fome, não se colocam a furtar. É
questão de princípios.
Neste sentido, parto da ideia
de que a imoralidade dos dirigentes africanos (podendo excluir alguns), aliada a falta de ética é o que mina muitas governações que em nada mudam, mesmo
depois de tantos anos de mandatos. Ou seja, é ridículo culpar a fome pela incoerência e imoralidade dos nossos
chefes.
Precisamos é sim de chefes que
sejam dotados de moralidade suficiente para gerir uma nação repleta de gente
diferente, e ao mesmo tempo ter a ética de saber como gerir tal povo, caso não,
permaneceremos nos estados de ilusão nos quais nos encontramos, sem muita
perspectiva de desenvolvimento.
Se conseguirmos escolher, ou
ter chefes que tenham tais características, então poderemos construir
sociedades dirigidas por líderes, no sentido daqueles que inspiram e fazem
populações pensarem no futuro, o que nos pode remeter a “O espírito do Povo” de
Marx Weber, no qual problematiza a convivência dentro da sociedade como a
necessidade de compreender o porquê das pessoas agirem como elas agem.
É preciso que haja uma liderança
responsável por parte dos chefes africanos, para tal, é preciso que se repense
África, para que se tenha olhos saudáveis para olhar num futuro que seja
alternativa para a vida dos africanos. Neste sentido, precisaríamos repensar
naquilo que é básico para cada nação.
Não podemos tentar implementar
vida americana ou asiática, esbanjando fundos (carros luxuosos,
infra-estruturas bilionárias, etc), numa fase em que a fome, falta de água
potável, analfabetismo, saúde precária e desnutrição continuam sendo graves
necessidades dos cidadãos.
Moçambique, a semelhança de outros
países africanos, mostra-se tão frágil nas suas políticas, não conseguindo até
evitar a sua dependência/patrocínios até para livros escolares. Precisamos que
o ocidente nos garanta livros escolares e assim vai continuando um país com as
mãos estendidas para cima, para que o seu soberano lhe conceda um favor.
É preciso que os países
africanos se libertem do pensamento “Aladiniano”, de que um tal génio da lapada
vai garantir que todas as vontades sejam cumpridas. Precisamos de uma África
liberta de políticas de reciclagem e de esgoto, para que se pense efectivamente
num desenvolvimento racional, que seja sustentado com bases em riquezas
internas, apostando na qualidade dos quadros.
Se me perguntassem quem seria
um bom chefe de estado, eu diria que seria aquele que além de respeitar os
principios éticos e morais, é aquele que prioriza nas suas actividades o
cumprimento de regras/metas que sejam para o bem do seu povo. Mas pode ser
caricato definir o chefe de estado só nestas perspectivas. É preciso que os
chefes reconheçam que foram escolhidos porque houve confiança e tal confiança é
ao mesmo tempo um dever a ser cumprido. Claro, não me esqueço dos autoritários
que sobem no poder através de artimanhas e ao sentirem o sabor não querem de lá
sair.
Fiquei surpreso quando Robert
Mugabe dizia que queria governar até aos 100 anos (até a morte), e os seus
simpatizantes do seu partido olhavam tal pedido como os mandamentos de Jesus
Cristo. Ora, nós estamos a falar de uma nação inteira que se vai curvar a prestar
desejos a um homem que monopoliza e retrocede o desenvolvimento de um estado,
fazendo da presidência um poço de desejos ou uma caridade para o “bem-querido”.
Precisamos de uma África que pense de forma madura e consistente num
desenvolvimento sustentável.
Debatendo a moral e ética dos
nossos chefes, abre-se uma oportunidade para perceber se seria da moralidade
que colheríamos frutos de um Homem que respeita as leis e luta contra a
corrupção, ou se seria/é da sua imoralidade que continuamos com tanta
hegemonia, concentração de poder num único Homem que mais pensa em reservar
terras e dinheiro para futuras gerações de seus filhos ou ter acções nas
empresas-chave que regulam o funcionamento de um estado.
Ora, estou nesta perspectiva,
a falar da necessidade de ter presidentes representativos, com os quais a
sociedade neles se reveja. Claro, não há presidentes perfeitos, senão
estaríamos a falar da encarnação de Jesus Cristo. Mas quando concebermos a
moral e a ética como um dos pressupostos da escolha dos representantes e ao
mesmo tempo que estes se considerem dignos, então poder-se-ia sentar para
projectar o futuro do continente. Estou a falar da ingenuidade/humildade
suficiente num individuo para recusar governar um povo, caso se ache inábil
para tal.
O que precisamos em África é
de políticas transparentes, inclusivas, eficazes, eficientes, ou seja,
democracia efectivamente fiel. Mas tal democracia somente será possível quando
se levar a sério a necessidade de despartidarização
da mente africana. África não pode somente ser definida por alianças
partidárias. Precisa ser definida também por mentes críticas que ajudem a
regular o crescimento de um país.
Ter um país totalmente poluído
por cidadãos aliados aos partidos, é o mesmo que hipotecar milhares de anos
vivendo na mesmice e na ineficácia, porque estamos a falar de pessoas que mais vão
priorizar sua lealdade do que tecer ideias frutíferas. Precisamos de mentes
críticas que alertem e façam lembrar sobre os reais problemas dos povos.
Neste sentido, é preciso que
haja pensamentos divergentes, para não dizer apartidários, para que desafiem o
rumo de um estado. Não se pode simplesmente concentrar em guerras partidárias e
esquecer que há uma nação repleta de gente que precisa viver, sonhar, ter
educação, saúde, alimentação e confiança nos que os lidera.
Um dos problemas que minam a
governação dos chefes africanos é a falta de leitura. Estamos numa cenário em
que um chefe de estado não sabe definir coisas tão básicas como fazer um olhar
sobre o Subsidio social básico, ou ainda dar uma opinião, ainda que leve, sobre
problemas ambientais. Neste sentido, precisa-se de chefes que visitam
bibliotecas e saibam estar a par dos novos cenários mundiais. Um chefe de
estado precisa estar actualizado. Aliás, é importante, neste ângulo de ideias,
falar da necessidade de investir-se em bons assessores/conselheiros que ajudem
os chefes de estado a ter uma postura respeitável e que transmita confiança.
Os povos africanos falham na
dinamização do seu desenvolvimento porque ainda tem uma política rudimentar e
virada para o estomago. Enquanto não houver políticas descentralizadas, não
haverá um desenvolvimento efectivo.
É preciso que os chefes de
estados se interrelacionem e busquem experiências úteis para seus povos.
Podemos não sair fora, buscando o exemplo do Ghana que apresenta um exemplo de
democracia (em crescimento) que pode ser usada em outros países.
África precisa abandonar a política
de guerrilha se quiser desenvolver e buscar exemplos que dinamizem seus
esforços para atingir as metas pretendidas. Não se pode ficar toda hora a
reclamar que o ocidente minou e algemou as políticas africanas. Claro que
Portugal, por exemplo, estragou alguns estados africanos com uma administração própria,
como o exemplo de Kilwa Kisiwani, Mombassa - Tanzânia.
Como havia mencionado,
precisamos redefinir as nossas políticas e entre nós definirmos o que é útil
para nós como africanos. Não podemos esperar que o exterior venha nos fazer
consultorias ou mediações para ultrapassarmos problemas que podemos resolver
internamente. Este pensamento remete-me a Pougola quando diz que não é o
ocidente que atrasa o desenvolvimento, mas sim a mediocridade do pensamento
africano.
Um dos desafios que África tem
é investir na educação. Não se pode continuar a forjar percentagens da educação
para justificar fundos externos depositados nos países para fortificar a
educação. Neste sentido, é importante que seja urgente banir com aprovações
automáticas, pelo menos verificadas no contexto moçambicano, se quisermos
construir mentes capazes de pensar no desenvolvimento. Não há como desenvolver
capacidade de pedido de contas (pelo cidadão ao governo) num estado enquanto a
sociedade for analfabeta.
Para que seja possível tal
rompimento com políticas de esgoto, é preciso que se liberalize as instituições
do estado, formar mentes para mudança, especialização, eliminar o nepotismo,
criar uma sociedade integrada nos processos de tomada de decisão.
Adriano Morreira In “A crise
do estado soberano” fala da vingança das nacionalidades e diz que povos são
tratados como dispensáveis. Concluo este pensamento defendendo que um estado só
será reconhecido se provar transparência nas suas políticas e demonstrar que a
democracia funcione efectivamente. Aliás, é preciso que a descentralização do
poder seja levado a sério se quisermos dinamizar a funcionalidade dos órgãos
dos estados. Não se pode entregar todo bolo para ser gerido por único Homem, porque
ou poderá comer todo, ou não saberá como distribuir aos outros.
É importante que se perceba
que o corrupto evolui a medida que as sociedades evoluem, pois o Homem é
insatisfeito por natureza. Não haverá um mundo tão leal onde reine por completo
o cumprimento das vontades do povo, porque em si o Homem já é subjectivo e tem
em mente causas que o fazem ir a luta. Mas é preciso que tais cusas não lesem a
funcionalidade de um estado.
Um dos problemas que
retrocedem o desenvolvimento de África é a epidemia da ajuda externa que torna
os africanos mais dependentes, preguiçosos em conquistar seus próprios “troféus”,
incapazes de criar oportunidades e gerir suas riquezas, abrindo lacunas para
que maior percentagem das riquezas internas sejam aproveitadas no exterior.
É importante que se repense
nas prioridades internas e investir no pessoal interno, para que o
desenvolvimento seja dinâmico, através de políticas claras, eficientes e
eficazes.
Termino meu pensamento dizendo
que precisamos investir seriamente nos serviços públicos, para que haja uma
administração pública que responda os anseios dos utentes. É preciso que se
fuja da ineficiência, criando monitoria e avaliação das políticas públicas. Ou
seja, é preciso renovar a máquina da função pública ou dotá-la de capacidades
técnicas para fazer face as exigências dos cidadãos.
Não haverá uma administração pública
enquanto não se satisfazer a necessidade da colectividade, daí que tornar as políticas
eficientes e transparentes poderá facilitar que a máquina da justiça seja mais
célere. Uma política fragilizada só cria
ferrugem que atrasa um estado.
Um chefe de estado precisa
transmitir confiança e visão de desenvolvimento para o seu povo.
Sérgio dos Céus Nelson
Sobre o autor do blog
Sérgio dos Céus Nelson
Communication Officer at Lúrio University Journalist. Freelancer. Activist of Human Rights. Photographer
Communication and information specialist. Journalist. Writer. Screenwriter. Researcher. Motivator. Volunteer.
Founder of the Association of Environmental and Human Rights Journalists - AJADH and the Literary Association of Arts and Culture of Mozambique (ALARCUMO).
Contact: (+258) 829683204 or 846065018/879877312
Skype: Sérgio dos Céus Nelson
Journalist with Honorable Mention in the International Prize for Human Rights Journalism, by the Association of Public Defenders of the State of Rio Grande do Sul (ADPERGS) - Brazil.