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segunda-feira, 9 de maio de 2016
A PAIXÃO PELA MOÇA DA LIVRARIA
O dia começava serenamente. De
repente deu-me vontade de ler e apreciar livros. Senti que devia abandonar o
local em que me encontrava entediado com outras coisas com destino a um sítio
onde me pudesse sentir mais vivo, pois somente com a literatura consigo viajar
e encontrar-me nas minhas dores, solidão, tristeza e nesta minha loucura de
sonhar em impossibilidades, na esperança de construir um mundo no qual seja
possível ser-se mais do que um mero vivente.
Minutos depois vejo-me numa livraria
que faz-se presente no espaço diferente dos outros. Um passo antes de entrar
olhei para dentro, como se eu procurasse algo a mais, além de livros. Os olhos
tremiam de tanta vontade em mastigar os livros que lá sobejavam, pois há lá
tanta literatura que me rouba a vontade de neles perder-me e cantar cada
cântico e maravilhas de gente que alegra-se, de mulheres que tornam-se mães e
acima de tudo maravilhas de gente que na descoberta de um mundo novo, conhecem
pessoas diferentes que num simples click de
emoção fazem-se enlouquecer, venerar, sonhar e dividir momentos.
Passavam dois segundos da hora
dezanove e eu, vidrado em uma boniteza fenomenal, me encontrava olhando para
aquela moça da livraria que fazia-se séria, mas linda e divinalmente enfeitada
na cara com aquele sorriso que me faria comprar toda a livraria só para lhe
agradar. Naquele momento queria somente apreciar…apreciar e perder-me em
títulos de obras de gente que faz mais do que viver e retrata seus sonhos em
laudas feitas em obras. Tentei ficar sério para parecer uma pessoa séria, mas a
sua lindeza fazia-me sorrir e nada mais que parecer um palhaço quando tenta
agradar uma criança triste e com vontade de ser criança.
Alguns segundos passaram e eu
ali…olhando se seria mesmo ela sentada naquele balcão pronta para me atender.
Pensei…que sorte a minha de ser atendido por uma moça tão exuberante e invejavelmente
(para outras mulheres) fantástica. De repente a minha sorte aumentou quando ela
fez-me ouvir o palpitar de sua voz macia feito o enluarar e amanhecer carregado
de sonhos e vontades de gente que acorda e acredita em fazer algo diferente e
que supere suas expectativas. O meu dia parecia completo, mas o sonho em que me
encontrava estava verdadeiramente completo e fantasticamente hipnotizante.
Naquele meu jeito simples, de uma
serenidade que inventara naquele momento para não fazer nenhuma desfeita, olhei
naqueles olhos radiantes que compunham-se na melodia daquela noite linda e
serena e lhe disse um olá, na esperança de que me dissesse algo a mais que me
permitisse gravar o timbilar daquela
voz divinal que quase me fazia esquecer do real objectivo que me levava naquele
local…livros.
Minutos depois da minha eterna
vadiagem por aquela beleza, por aquela fisionomia estruturalmente bem
construída sobre o olhar dos deuses, descubro que havia mais alguém naquela
sala. Tive que fingir e fiz-me de apreciar livros, mas a minha mente já estava
asfixiada e derrotada por aquela provocação em mulher que roubou toda
criatividade que os deuses teriam de forjar uma mulher.
Parei numa prateleira e tentei
apreciar os livros, mas os olhos me escravizavam e faziam-me olhar para a moça
no balcão. Sorri ao ver novamente aquela e na inocência de uma criança que começa
a sonhar em amar, mordi os meus lábios e quase que rasgava o livro que segurava
na minha mão de tanta vontade em ir até ela para elogiá-la e dizer o quão foi
bem desenhada. Mas pensei… Uhm melhor não. Se não ela me manda embora da
livraria e não me deixa oportunidade de lá regressar e vê-la mais uma vez.
Continuei a minha inspecção pelo
local. De repente senti vontade de perguntar algo. Na verdade não tinha nada sério
a perguntar, pensei que ao chamar alguém, ela viria para me atender e esclarecer
algumas dúvidas. Mas não aconteceu. Ela quis torturar-me por não poder vê-la de
perto e deixou que a colega me viesse atender. Fingi querer um livro. Na
verdade queria-o, mas a livraria não dispunha de tal autora americana que tanto
amo lê-la (Lauren Kate). Olhei para o relógio e vi que o tempo berrava para mim
e tinha que regressar ao minha palhota, ainda que quisesse alimentar-me mais
daquela serenata que definia-se em cada instante que eu tentava definir a
perfeição de uma mulher. Fiz-me ao balcão. Decidido em pelo menos ir-me embora
depois de sentir a macieza de seu perfume.
… (um momento incaracterizável) …
Ao seu lado, eu do lado oposto dela,
fechei rapidamente os olhos e tentei roubar alguns copos de seu perfume através
das minhas ladras narinas que tentavam perpetuar a sua presença em mim. Fi-lo e
descobri-me encantado na simplicidade de uma moça que olha-me toda sorridente,
sensual, linda e sem dúvidas divinal. Não podia mais esperar, senão a loucura
me subia aos miolos e de tanto apreciar explodia minha última capacidade de admirar.
Fui-me embora, sem muitas palavras dizer. Senti naquele momento que Deus
estaria a me castigar ao ver uma beleza que não a poderia tocar e deslizar meus
dedos sobre aqueles cabelos que patinavam sobre suas costas e faziam meus olhos
acompanhá-los.
Dias passaram e minha mente tentando-me
fazer lembrar que havia uma página da minha vida que devia abrir…ler e
apreciar. O tempo voava junto das minhas vontades estremecidas sobre o demorar do
futuro para poder regressar naquela livraria e mais uma vez, de perto,
confirmar que não estivera alucinando, sonhando ou divagando no dia que por vi
lá aquela mulher de pele achocolatada senão apaixonante que fez-me acreditar
que poderia definir novamente a minha vida, afinal, me havia trancado para
aquelas coisas de sentir…querer…e perder-se nos olhos de alguém.
Por sorte mandam-me (do serviço) para
fazer umas compras no mesmo prédio em que se encontra a livraria. Mas pela
pressa não pude lá entrar e pelo menos saudá-la e dizê-la que alguém sente
saudades dela. Somente pude subir as escadas rolantes e nas calmas, de longe,
apreciar a sua beleza que domina e faz-me querer ser mais do que ser o que sou.
As escadas rolantes pareciam invejosas.
Subiam rapidamente que quase faziam-me ver aquela lindeza de forma trovejante.
Então decidi lutar contra as escadas. Enquanto elas subiam, eu dava dois passos
para traz e continuava apreciando, até que pelo olhar das pessoas que não
entendem quando gente se apaixona fazia-me parecer um extraterrestre que
aprendera naquele momento a subir aquelas escadas. Então, num estilo suave, mas
triste fui subindo as escadas que no regresso fizeram-me correr rapidamente ao
meu escritório, sem que pudesse vê-la de novo. O tempo roubava-me o prazer e
vontade em diluir meus olhos naquela formosura e junto dela cantar um cântico
de surpresa de alguém que encontra-se no lugar certo. Mas sabia que a vida não
perduraria milhas de noites geladas e demoradas sem que a pudesse ver
novamente.
Enquanto lembrava-me daqueles dias
que por lá passara na procura de mais um livro por ler, fui alimentando minhas
fraquezas por ela enquanto eu esperava o dia que me vingaria do tempo e
ocupação que fazia-me estar tão longe, mesmo que por perto dela estivesse. Então
chegou o dia de vingar-me da inveja dos deuses, todo assanhado e cheio de
provocações para encher o meu ego de querenças e nada mais que aquele ensejo em
perder-me nas avenidas de Lourenço Marques tentando-me encontrar e perceber o
que tanto fazia-me dependente daquela beleza que sinto que faz-me falta sempre
que não a posso ver e farejar.
Profetizando o encontro que estava a
algumas léguas dos meus passos, fui organizando meus cabelos de carapinha e fui
inventando diversos estilos na esperança de que mudasse esta forma de andar que
a princípio percebe-se que é de um jovem apaixonado que não sabe controlar-se
quando a fome pelo abastecimento de sua felicidade faz-lhe falta.
Em minutos de andanças, fui tentando
rebuscar a sua imagem em meu pensamento, mas nada é mais encantador que vê-la
por perto. Então decidi que o estilo não era problema. Decidi que o tempo
estava a meu favor e fui contando os passos até chegar lá onde ela trabalha…onde
trabalha a moça da livraria que fez-me mudar de rumo e da definição do ser
feliz…solitário e apaixonado. Mas temia que desta vez ela não me olhasse.
Porque já havia por lá passado e de tantas vezes não consegui dizer palavra
sequer. Então fui aprendendo diversos verbos nos dicionários Aurélio e em gramáticas
para que não me faltassem palavras ao chegar perto dela. Mas de imediato
percebi que não havia preparação nenhuma que fizesse estar preparado e forte o
suficiente para olhar nos olhos dela sem querer dizê-la que o quanto a sua
beleza humilha as demais mulheres.
Naquele dia, fui correndo, e como se
não fosse dizer nada dirigi-me a livraria, mas antes, parei nas escadas e fui
vendo os seus movimentos, quando sentou-se no banco ao lado da prateleira de
livros manejando o telemóvel. Em seguida fui ao seu encontro, como quem faz
pazes com todo-poderoso para que naquele dia as coisas não escurecessem e o
vento não se zangasse comigo e fizesse o meu destino trovejar e palavras me
faltarem para dizê-la o quanto senti sua falta.
Entrei (na livraria) perguntando onde
ficava a prateleira da literatura moçambicana. Com as mãos estendidas ao céu
daquela prateleira que leva consigo segredos de diversos escritores, fui-me
acomodando e me gabando sobre a beleza daquela linda mulher que me atendia e
fazia-me sentir-se capaz de comprar toda livraria. Peguei no recente livro de
Mia Couto e olhando nos olhos dela…naqueles olhos lindos acompanhados de tanta
maviosidade em uma única mulher eu disse que ficaria com o livro. Quase dizia
que ficaria com ela, mas as palavras me fugiram e decidi confessar que era por
ela que eu abundava imensamente naquela livraria.
“Estes livros são a única desculpa
que tenho para vir-te ver”, assim lhe disse na esperança de que ela sentisse o
palpitar de um jovem perdido na beleza de um mulher que o inspira e o faz ter
vontade de convidá-la para tomar um sorvete. Mas ao meu convite para sair foi
por ela rejeitado, logo depois de tentar-me ferir ao dizer que estava
comprometida. Como a victória tarda para quem não luta, continuei jogando o meu
charme despedaçado e estremecido sobre ela como quem diz “não tenho muitas
palavras para te dizer, senão dizer-te o quanto te quero e o quanto te venho
apreciando a léguas de vida”. Então percebi naquele momento que a quero de
verdade e meus passos continuarão abundando sobre aquela livraria.
Entre tentativas fracassadas de
persuadi-la, descubro-me com uma lagrima quase espreitando os olhos quando
ouvi-a negando tão suavemente os meus pedidos, mas ao mesmo tempo me alegrando
por vê-la falando comigo na voz de quem diz “Nós temos tudo para dar certo”.
Então fiquei firme e naquela formosura dela encontrei o refúgio para minha esperança
em um dia levá-la para sair.
Sem ter dito muitas palavras, espero
tê-la mostrado o quando a fraqueza me acompanha quando estou ao seu lado
aconchegante. Com o meu cartão do banco, me dirigindo para pagar as contas do
livro, fui rezando que ela escrevesse o seu número no recibo de venda, mas não
o fez. Sem muitas palavras dizer, decidi ir-me embora, depois de tanto roubar o
seu perfume, apreciar a magnanimidade de sua presença, sempre na esperança de
que o nosso próximo encontro será melhor.
Sérgio dos Céus Nelson
In Loucuras de uma livraria
Sobre o autor do blog
Sérgio dos Céus Nelson
Communication Officer at Lúrio University Journalist. Freelancer. Activist of Human Rights. Photographer
Communication and information specialist. Journalist. Writer. Screenwriter. Researcher. Motivator. Volunteer.
Founder of the Association of Environmental and Human Rights Journalists - AJADH and the Literary Association of Arts and Culture of Mozambique (ALARCUMO).
Contact: (+258) 829683204 or 846065018/879877312
Skype: Sérgio dos Céus Nelson
Journalist with Honorable Mention in the International Prize for Human Rights Journalism, by the Association of Public Defenders of the State of Rio Grande do Sul (ADPERGS) - Brazil.

