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| Santana e Sheron |
Sonhar,
representar, encenar, criar imagens, viver vidas de gente desconhecida e ser
mais do que um ser vivente, são algumas das características de Dias Santana que
faz-se diferente quando sobre ao palco e sobre o espirito de um autêntico
actor, perde-se cada vez que tenta encarnar-se na vida do ser social que
define-se enquanto vive.
Numa
conversa, entre dois seres que navegam no mesmo mundo e tentam criar interceção
de suas vivências, viajamos junto de Santana que com os olhos exprimindo a sua
eterna paixão pelo teatro, fazia-se emocionar e alegrar cada vez emergia-se em
lembranças dos momentos em que esculpia seu corpo de sonhos e sua identidade de
dúvidas quando ser ele mesmo desconhece-se à medida que vive a vida de um
mendigo, de um esfomeado que sobre o olhar do mundo sonha em cantar glórias e
amenidades.
Falando
com Santana, encontramos uma duplicidade de vidas presas no mesmo ser. Mas como
viver num mundo emprestado e ao mesmo tempo conciliar com a realidade que lhe
segue a cada dia dos seus passos.
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| Junto de actores da Globo |
FRENTE AOS FACTOS (FF): Como
é que conhece Sérgio Mabombo?
DIAS SANTANA (DS): Conheço
Sérgio já a alguns anos porque ele pertencia a um grupo teatral da Matola e eu
pertencia e ainda pertenço a um grupo chamado Pangalatana. Os dois são grupos
que sempre interagem e tem feito trabalhos juntos. Dai que em 2009 tivemos a
oportunidade de trabalhar num filme espanhol juntos.
Em
2010, devido a colaboração havida no filme e outras trocas de ideias, decidimos
trabalhar juntos já que no cinema nos havíamos conectado muito bem. E porque os
nossos grupos estavam adormecidos, por razoes que todos conhecemos, a destacar
a falta de fundos, no mesmo ano (2010) criamos o Lareira Artes.
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| Junto do actor da Globo |
FF: Já criado o grupo
Lareira Artes, como foi conceber a ideia da peça teatral “A cavaqueira do
postre”?
DS: O
Sérgio já tinha escrito o texto. Deu-me para analisar e naquilo que não
concordava, deu-me a liberdade total de alterar e acrescentar novas ideias.
Depois disso começámos a ensaiar o texto. Mas importa referir que por ser um
grupo novo, houve dificuldades para dar os primeiros passos, porque não temos
condições de trabalho. Ademais, para que exista o encenador é preciso que
exista espaço.
Como
não podíamos parar por causa dessas dificuldades, procurávamos qualquer sitio
para ensaiar e fomos fazendo testes na rua. Lembro-me que por causa disso
pessoas pensavam que fossemos malucos, porque usávamos o espaço das ruas para
ensaiar a nossa peça.
Depois
de passado algum tempo ensaiando e refletindo sobre a peça, nos veio a mente a dúvida
de quem seria o encenador. Entre reflexões e a vontade de tornar o grupo mais
firme e que seja reconhecido, decidimos escolher o Elliot Alex. Lembro-me que
quando lhe contactamos ele estava fora de Maputo.
Quando
ele chega a Maputo, percebeu que já havíamos feito 50% do trabalho, e junto
dele completamos a parte que faltava para completar a peça. Ao aceitar encenar
a peça, decidimos seguir com o trabalho que tinha em vista fazer uma reflexão
sobre o contexto social.
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| Actores |
FF: Tem feito viagens a
mundo a fora para apresentar a peça. Como tem sido o nível de aceitação dos que
vão ao teatro para ver-vos actuar?
DS: A
recepção tem sido muito positiva, desde fomos no Brasil em 2010, mesmo ano que
estreámos a peça. Foi algo fenomenal. Quando chegamos no Brasil, lembro-me que
estava a decorrer um festival internacional no qual estavam muitos países.
De
manha quando estávamos no quarto, a Rosa Langa quem estava connosco na altura
disse “meninos liguem a Televisão” e percebemos que estavam as falar do nosso
grupo. E o mais emocionante é que o noticiário falava no nosso grupo como a
atracão principal do festival. Aquela surpresa foi algo incaracterizável, tendo
em conta que eramos um grupo novo. Alias, até em jornais apareceram notícias
falando de nós.
Afinal
de contas, quando estreámos a peça em Moçambique teve um grande impacto, o que
não seio dizer porque, já que disse que eramos um grupo pequeno que não tinha
muitas condições.
Porque
os meios de comunicação estavam na estreia, facilitou que o nosso nome se
espalhasse com facilidade até que chegasse no Brasil.
Quando
falaram do nosso grupo como a atracão principal do festival, confesso que
pensei que estivessem a nos confundir com outro grupo.
Quando
apresentamos a peça no Brasil, com aquele público formidável, vimos gente emocionar-se
enquanto apresentávamos a peça, o que nos levou a acreditarmos que nos tínhamos
metido em um grande desafio.
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| Passagem da RTP |
Uma
grande surpresa foi quando as pessoas invadiram o nosso camarim e ficamos
pasmos, como quem não acredita no que estivera a ver pelos seus olhos. Depois
daquele momento, fomos ter com o representante do festival que nos fez perceber
que todo aquele apoio, as lagrimas vertidas em um momento de encenação, foi
porque as pessoas tinham gostado da nossa peça. Aquilo motivou-nos grandemente
e deu-nos força para seguir em frente e tentar aperfeiçoar as nossas obras.
Importa
dizer que por causa daquele espetáculo que demos, fomos conquistando os outros
estados do Brasil e chegamos a fazer visitas em outros países, graças a boa
recepção da nossa peça naquele dia.
FF: Como foi que
chegaram no Brasil? Teve alguém que serviu de conector para a vossa chegada
naquele país?
DS: Quando
criamos o grupo tínhamos o objectivo de nos internacionalizarmos, por isso
contactamos Elliot Alex e o fizemos saber quais eram as nossas metas, já que
ele é um actor reconhecido mundialmente e já esteve no Brasil. Junto dele
tivemos a nossa aparição no festival internacional em Teresina no Brasil.
FF: Nas visitas por
outros países, o Lareira e Artes tem feito interligações e participações em peças
de outros grupos?
DS: Esses
é um dos ganhos mais importantes que temos tido. Os intercâmbios facilitam o
nosso crescimento como artistas. Deixa-me dizer que neste momento faço parte de
um grupo chamado Blem blem de
São Paulo. Nos conhecemos no Brasil e a nossa peça (A cavaqueira do poste) foi
encenada no ano passado por um grupo chamado Dragão 7 de São Paulo e a nossa peça (texto) “A nova aragem” está a
servir no momento como uma base de estudo para uma universidade de Teresina e
fizemos uma co-produção com um grupo de Portugal chamado Chão de Olivia que com ele montamos a nova aragem.
FF: Consegue ser actor
no palco do teatro e ao mesmo tempo ser acto no palco da tua vida?
DS: Claro.
É necessário senão ficamos loucos. Quando estou fora dos palcos consigo
encontrar-me como um cidadão comum, embora existam actores que não conseguem
distinguir o momento de encenação e o momento da vida real.
FF: Há quem diz que a
vida é uma representação, porque vive-se como se actua num palco.
DS: Concordo.
A vida é em si uma arte e vivemos representando em cada instante. Mas o que
importa nisso é que quando subo no palco sei que vou representar uma certa
imagem, mas quando estou no real da vida sei que devo ser eu mesmo.
FF: Sabemos que é
jornalista. Tem praticado ainda a profissão, ou já deixou para traz em
detrimento do teatro.
DS: As
pessoas podem não saber, mas estou a praticar o jornalismo, apesar de não estar
em nenhum órgão em Moçambique. Mas tenho colaborado com uma revista de São
Paulo chamada “Legitima defesa” que tem a ver com questões da raça negra no
Brasil. Fui convidado para trabalhar na revista em 2013 e sou correspondente da
Radio Mega Brasil Online. Então, continuo a trabalhar como jornalista.
FF: Em termos de focos,
o que ambiciona a nível do vosso grupo e para o teatro?
DS: Minha
maior ambição no teatro é que o teatro moçambicano tivesse mais apoios para
ajudar no crescimento do próprio teatro, porque é de conhecimento geral que há
falta de apoio no teatro. Há muito talento e muitos bons grupos no país que
acabam desaparecendo por falta de apoio.
Gostaria,
a quem fosse de direito, que desse a mão para fortificar os trabalhos teatrais,
porque o que se nota é que a cultura em Moçambique é só música, embora tal música
seja para alguma camada privilegiada, o que faz com que os verdadeiros músicos
não tenham atenção necessária.
Eu
gostaria, que do mesmo jeito que dão prioridade para as outras áreas, dessem também
prioridade para a cultura. Gostaria que o Lareia Artes crescesse cada vez mais
e tivéssemos espaço para trabalhar, mais oportunidades para apresentarmos
nossas peças aqui no país, porque não somos conhecidos em Moçambique. Essa é uma
triste realidade.
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| Junto do Sergio |
FF: Que crítica faz sobre
as produções teatrais no país?
DS: Talvez
seja difícil fazer uma crítica porque se formos a ver, os ditos grupos
profissionais são dois (Mutumbela gogo e Gungu). Para criticar os grupos
pequenos que só participam no festival do inverno e que não tem mínimas
condições de trabalho e nem tem encenador, é difícil. É fácil criticar quando
sabe-se que os grupos têm condições de trabalho.
FF: O que falta para
que o grupo Lareira Artes expanda seu nome a nível do país?
DS: Falta
de patrocínio. Já pedimos vários patrocínios para vermos se fazemos
apresentação pelas províncias, mas não temos tido respostas. O nosso grupo não
é desconhecido, porque o Ministério da cultura, na pessoa do antigo Ministro,
conhece o nosso grupo, porque em 2010 quando viajamos pela primeira vez, fomos
nos despedir dele.
Quando
ganhamos um dos prémios no Brasil, nos mandaram emails dizendo que quando
chegássemos nos devíamos aproximar do Ministério da Cultura.
Mesmo
para as viagens para festivais da lusofonia, os países tem que pagar passagem
para os artistas, mas Moçambique não o tem feito que por vezes chegamos a dizer
aos países onde decorrem os festivais que não temos condições, e eles acabam
convidando outros grupos e dessa forma acabam conhecendo Moçambique como um país
que não patrocina viagens de artistas.
Normalmente
nos safamos desse escândalo quando subimos no placo e as pessoas gostam da
nossa actuação. O que percebo é que estamos a correr o risco de um dia Moçambique
ser afastado dos festivais, porque é preciso colaborar.
FF: Pensam em aumentar
membros no grupo Lareira Artes?
DS: O
grupo foi criado por Santana e o Sérgio. Muitas vezes ensaiamos no quarto do
santana e lá não podem caber cinco ou seis actores no entanto, não somos uma
ilha. Trabalhamos com outros actores. Por exemplo a peça “A cinza sobre as
mãos”, trabalhamos com dois actores da Escola de Comunicacao e Artes – ECA da
Universidade Eduardo Mondlane. Não somos
uma ilha, mas por falta de condições acabamos por nos limitar a chamar outros
actores.
FF: Alguns criticam o
facto de os grupos teatrais pautarem pela falta de novas criações e pelas
reproduções de peças teatrais de outros grupos.
DS: Cada
grupo tem suas estratégias. Para o nosso caso fica caricato reproduzir peças
porque ambicionamos chegar longe. Não me vejo a montar Romeu e Julieta, porque
ao chegar no Brasil vão dizer que a peça já foi representada de varias
maneiras, e no Brasil, para conseguir espaço tens que chegar com uma novidade e
por vezes fazer o dobro do que eles fazem.
Nos
estamos felizes por criarmos nossas próprias peças, porque há grupos renomados
fora do país que tem representado nossas peças, isso é maravilhoso. Preferimos
fazer nossas próprias peças, baseadas na nossa realidade, mas com uma visão
global.
A
crise financeira por exemplo, é algo que nos apoquenta todos dias, daí que a
retratamos na cavaqueira do poste. Todo mundo ficou impressionado com a peça. Por
causa da nossa ousadia, as pessoas nos perguntam se somos um grupo do Brasil,
mas claro que dizemos que somos um grupo originalmente moçambicano.
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| Momentos com Costa Neto |
FF: Que conselhos para
quem teme expressar-se, ser ele mesmo, sonhar e seguir seus sonhos?
DS: Se
teres medo de seres tu mesmo nunca vais crescer, desenvolver e nunca serás tu
mesmo. Ganha coragem, não será fácil, mas há glória em lutar para vencer. Não
durmo a produzir dia e noite, o que faz com que muita gente nos critique e
chegam a dizer que bloqueamos o mercado internacional, o que não é verdade. Não
basta só produzir, tens que fazer contactos para internacionalizar o seu
trabalho.
Do
momento, o grupo Lareira Artes está a trabalhar em novos projectos, a destacar a
nova peça teatral que chama-se a virada do jogo, que ainda não está prevista a sua
estreia, porque ainda estão a trabalhar minuciosamente nos detalhes por forma a
dar ao público o prazer de ver, assistir e viver as suas peças teatrais.
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| Coimbra |
Percurso de Dias Santana
Santana é
formado em Comunicação Social (Jornalismo) pela escola de jornalismo de Maputo.
Dá segmento a cultura pela escola primaria e em 1995 abraça seria mente esta
área sob a direcção da Casa de Cultura do Alto-Maé , fazendo teatro
,musica tradicional,etc…
Mais tarde
trabalha com alguns artistas renomados da praça e integra-se em alguns grupos
teatrais dentre eles Hopangalatana e Gala Galazul criado pelo actor e encenador
Rogério Manjate e apresentando-se na Africa de Sul Zimbabwe, Austria , França e Burkina-Faso.
Em 2010 funda o
grupo Lareira Artes com o seu colega Sérgio Mabombo e participam nos principais
festivais de teatro em Angola , Portugal
,Brasil e Macau com muito êxito sendo
neste momento Um
dos Grupos Mais Internacionais e Premiados da Lusofonia pela segunda vez consecutiva,
apesar de cinco anos de existência
e composto apenas
por dois elementos.
PRÉMIOS E DESTAQUES DO SANTANA
2014- A Imprensa brasileira
através da APCA-ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE CRÍTICOS DE ARTE premeia o Santana como Um
dos Sete Actores Negros que
fazem Diferença no Mundo das Artes no
Brasil.
2012- Santana
participou na telenovela mexicana "El Caminhante" cujo casting e
gravações decorreram em São Paulo.
Participou também
na telenovela "Joias de África"
em Maputo e alguns filmes dentre eles
"Quero Ser Uma Estrela" e
"Um Rio" do
português José Carlos de Oliveira.
"Flores Silvestres" do
espanhol Mikel Ardanaz , " A terra
Prometida " de origem italiana. Fez também direcção de actores no
filme Sunday do
Italiano Fabian Ribezzo.
2012- É convidado a
integrar o grupo brasileiro de teatro BLEM
BLEM composto por quatro elementos.
O Santana é
convidado também a orientar workshops, palestras e debates no Brasil
,Portugal e Macau.
JORNALISMO
2012- É convidado a
colaborar na revista LD-Legítima Defesa,
ligada a movimento negro no Brasil.
2015- Convidado a corresponder
para Rádio Mega Brasil Online de
São Paulo.
PRÉMIOS
E DESTAQUES DO SEU GRUPO
2013/15-Um dos Grupos Mais Internacionais e Premiados
da Lusofonia
2015-O grupo apresentou-se em 4 Continentes num só
ano
2013-Prémio Festlip no
Brasil
2012-Melhor
espetáculo no Festeca
em Angola
2012-Premio Impacto
no festival Periferias
em Portugal
2011-Primeiro grupo
estrangeiro a participar no
FENATA-festival nacional do
teatro brasileiro no Paraná
onde o grupo
foi igualmente homenageado.
2015-Digressão por
Portugal.
2015-O grupo é premiado com
a peça "Cinzas Sobre as Mãos"
como Um
dos Três Melhores Espectáculos Estrangeiros que passaram pelo Brasil em
2015.
Sérgio dos Céus Nelson