quarta-feira, 9 de novembro de 2016
Contexto da campanha e vitória de Donald Trump
Exemplo
de democracia ou queda dos princípios do “sonho americano”?
O mundo ficou “surpreso” com o rumo e o resultado das eleições
norte-americanas. Se por um lado tínhamos um candidato (Trump) que mostrava um
radicalismo misturado com o racismo, sexismo, tendência a criação de uma América
com desigualdades sociais, onde as mulheres seriam, de certa forma, mais
lesadas, hoje temos o mesmo candidato que vem colocar em causa, aparentemente a
“soberania” do estado americano, depois de garantir mais de 270 votos nos colégios eleitorais.
Fiquei, deveras, impressionado pela forma radical como
houve mudanças no discurso do Trump. Ora, depois dos resultados, vemos um Trump
que está preocupado com os Estados Unidos e tenciona unir a todos sem nenhuma
descriminação e define Hillay Clinton como uma concorrente forte, que poderá ser
útil no seu governo e ao mesmo tempo mostra-nos a sua vontade em unir os
partidos Republicano e Democrático, no sentido de dinamizar as políticas americanas.
No seu primeiro discurso, que pode-se ter como inclusivo,
na perspectiva de uma governação inclusiva, Donald Trump reveste-se num homem
do povo, quando ele diz “Vamos lutar pela América…somos todos americanos, etc”.
Nesta perspectiva, faz-nos repensar na estratégia que provavelmente Trump teria
tomado por forma a tornar a sua campanha mais efusiva, notória e impecável.
Uma coisa incrível que não se pode deixar de lado, que ditou
a mudança radical para a vitória de Trump tem a ver com alguns factores que
passo a citar:
·
Machismo: O
mundo americano ainda define-se como conservador, nalgum momento, e mostra-se
apática na ideia de ter uma mulher na liderança (chefia), facto que pode ter
influenciado naquilo que chamaríamos de “golpe do género” nas campanhas
eleitorais. Há senadores, chefes de departamentos, colégios eleitorais nos
quais ainda prevalece a ideia de que a mulher deve ser submissa ao homem.
Agora, claro que este pensamento é no seu todo discriminatório, numa sociedade
em que luta-se pela igualdade do género.
·
Campanha com dinheiro individual: Trump aumentou o seu numero de seguidores, por um lado,
quando ele mostra-se um cidadão preocupado com a sociedade á medida que
“prefere” não gastar elevadas quantias de dinheiro para fazer campanha, no
sentido de priorizar questões mais essenciais ou básicas que seriam segundo ele
mais pertinentes do que que gastar rios de dinheiro para fazer uma campanha que
aliás, poderia não lhe garantir a vitória.
·
Igrejas:
Trump pode ter derrotado Hillary Clinton muito antes dos votos. Pode-se ter
como incrível a forma como Trump usou das “fraquezas” de Clinton para enaltecer
os seus ideais. Durante uma reunião com padres, Trump fez questão de criticar a
sua oponente porque para ele ela nunca foi uma “mulher de igreja”, sendo que
ela estaria na igreja, naquele momento, para mais uma campanha, diferente dele
que se diz conhecido pelos padres, papas que o reconhecem como um “crente
assíduo”.
·
Favorecimento das minorias: Pode ter contado no enfraquecimento da campanha de
Clinton a aparição de Obama, porque ele já carregava um peso de cidadãos
agastados pela sua governação, por ele ter, no seu último mandado, em particular,
favorecido as minorias em detrimento de um grande número de cidadãos carenciados
que precisavam de atenção. Aliás, lembre-se que no dia da campanha, Obama foi
visto jogando basquetebol numa base militar, facto que mexeu com a atenção do
público.
·
Emails de Clinton: Acho disparate discutir-se sobre os emails, da forma que
o assunto foi tratado. Já era sabido que durante o processo da campanha
eleitoral os emails não poderiam ser
usados contra a Clinton, já que estes não significaram um atentado a política
ou estabilidade norte-americana, mas claro que Trump o poderia fazer, afinal
assim se entra na guerra da política.
Digo
que não podiam ser usado contra Clinton tendo em conta a entrada (desnecessária ou estratégica)
do FBI na história. Mas podemos analisar a entrada do FBI na história dos
emails em dois sentidos: Uma forma para mostrar a inocência da Hillary, através
da confirmação de sua inocência, ou ainda fomentar atenção negativa por forma a
mostrar a “irresponsabilidade” daquela que concorria a presidência da Casa
branca. Neste sentido, pode-se dizer que o FBI pode ter sido fundamental, ou na
queda da esperança de Clinton, ou ainda, poderia ter ajudado para que ela
chegasse onde ela chegou. Falo do número de eleitores que mostraram-se a seu
favor.
·
As lágrimas da América poderão secar?: Não é nenhuma novidade o quanto muitos esperavam a queda
de Trump, por motivos aparentemente conhecidos. Vimos muitos eleitores caírem
ao chão depois de verem os resultados. Mas uma coisa é certa: O que se pode
fazer agora é esperar para ver como o governo de Trump poderá agir no primeiro
ano de sua governação. Aliás, há para Trump a necessidade de criar um governo
mais inclusivo e talvez reconstruir o povo americano, lutando contra o racismo,
talvez no sentido de reconstruir o sonho americano que estaria, nalgum momento,
em estado de crise de decadência.
·
Conhecer Clinton seria vantagem?: Uma coisa que pode ter feito a campanha mais fervorosa
da forma que foi, é porque encontramos dois oponentes que se conheciam e que
poderíamos arriscar a dizer que foram “amigos” e trocaram sonhos num passado
recente. Ora, lembre-se que Donald Trump era amigo/ligado a família Clinton
(Bill e Hillary). Neste sentido, Trump patrocinou a campanha de Clinton e já
conhecia melhor, para usar seus defeitos no decorrer da campanha eleitoral.
·
Homem de negócios sem experiência política: Com certeza Trump terá que dinamizar a sua governação,
criando possibilidades para que haja mais engajamento (de diversos atores) para
solidificar o seu período de chefia. Aliás, Trump tem neste contexto um desafio
de abrir possibilidades para que todos se sintam incluídos se ele quiser uma América
forte. Como ultrapassar os desafios será não só uma missão de Trump, mas também
de cada cidadão que deverá nos próximos tempos ser mais atencioso, mais incluído
na construção de uma nova perspectiva de governação e acima de tudo monitorar e
ajudar na construção de uma América eficaz e eficiente na implementação de suas
leis e estratégias de desenvolvimento.
·
Queda do império de Obama: É inquestionável que Trump fez história e pode ter
derrubado a imagem de Obama, olhando no sentido de um homem solitário que lutou
sozinho até a vitória, depois de ter sido largado por alguns membros do partido
republicano. Trump vem problematizar o sentido de governação no contexto dos
EUA, porque pode-se pensar, a prior, como foi que Trump chegou na casa branca
ou que tipo de eleitores foi as urnas. Mas a verdade é que ele já é o vencedor.
·
Eleitores fantasmas: “Quem votou no Trump”, “que tipo de eleitor votaria nele”
são algumas das perguntas que fazem o mundo indagar-se sobre aqueles que são
chamados de “eleitores selvagens’ por terem aceitado uma dominação da América
por um homem que desestruturaria o sonho do povo americano. Será que espera-se
a mudança de cor no prédio da casa branca? Teremos uma casa vermelhada de
tiroteios? Isso não podemos mensurar numa altura como esta. Precisamos é ter
uma capacidade politico-académica, no sentido de estudar as possibilidades de
mudança na esfera da política americana, afinal política é um jogo que sempre
nos surpreende.
·
Trump fez história: Me coloco a dizer que Trump teve que fazer duas
campanhas. Se por um lado tínhamos um candidato que não era conhecido,
contrariamente com a Clinton que todo mundo já leu sobre ela, temos por outro
lado o mesmo candidato (Trump) que tinha que mediatizar o meu nome e se tornar
viral. Daí que acredito que pode haver, no futuro, uma grande surpresa na
governação de Trump, porque para mim, Trump revelou imagem de um candidato que
queria mediatizar sua imagem, e através disso prender atenção do mundo que
passou a estar mais atento ao que ele fazia. Tudo tem a ver com estratégias de
marketing eleitoral. Acho que o discurso machista, de exclusão que adoptara
poderia ter sido, por hipótese, uma forma de fazer com que o povo gravasse o
seu nome na cabeça e soubessem que ele existia na corrida a casa branca.
·
E a economia mundial?: No primeiro dia de governação de Trump, muitas foram as reuniões
de emergência, queda das bolsas mundiais que se registaram em diversas partes
do mundo. Disso, surge a pergunta: será que se pode esperar uma América com
sonhos hipotecados ou uma América na qual se façam sentir novos ares, novas
oportunidades, novas lições ou novas formas de governar?
O que se pode prever, se fizermos uma análise quase que
“estúpida” ou mesmo “análise de espelho” por aquilo que se aproxima, detectamos
um cenário de uma aliança Américo-russo versus inimizade com a China. Daí que
me coloco a questionar qual será o impacto da vitória de Trump no sistema de
diversos povos, incluindo a China, assim como outros países nos quais América
tem-se notado presente com muita força. Esperemos do futuro para ver o que
acontece. Agora, salutar Trump pela vitória e esperar que se faça valer a
democracia, a construção de um país mais dinâmico, interactivo, onde todos
sejam incluídos dentro das políticas a serem aprovadas.
Sérgio
dos Céus Nelson
Sobre o autor do blog
Sérgio dos Céus Nelson
Communication Officer at Lúrio University Journalist. Freelancer. Activist of Human Rights. Photographer
Communication and information specialist. Journalist. Writer. Screenwriter. Researcher. Motivator. Volunteer.
Founder of the Association of Environmental and Human Rights Journalists - AJADH and the Literary Association of Arts and Culture of Mozambique (ALARCUMO).
Contact: (+258) 829683204 or 846065018/879877312
Skype: Sérgio dos Céus Nelson
Journalist with Honorable Mention in the International Prize for Human Rights Journalism, by the Association of Public Defenders of the State of Rio Grande do Sul (ADPERGS) - Brazil.