quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Fragmentação da sociedade como forma de preservação do valor individual

Uma tentativa de reconstrução da essência do nosso “EU”

(VIVO NUMA SOCIEDADE QUE ME DEFINIU ANTES MESMO DE EU TER NASCIDO)

Perceber a sociedade, como ela se manifesta, como ela evolui e acima de tudo como ela influencia no modus vivendi dos indivíduos, requere muito mais do que ser um humano e estar vivo, pois precisa-se da capacidade cognitiva de perfurar na essência que define os seres, por forma a melhor compreender as suas atitudes, a forma como lidam com uns com os outros.

É mesmo uma questão de intercâmbio psicossocial, ou até mesmo cultural para perceber o que torna as pessoas o que elas são, ou ainda, o que faz com que elas se comportem como o fazem.
Quando proponho-me a falar da necessidade da fragmentação da sociedade, o faço repensando na necessidade de criação de uma mentalidade pura e identitária, no sentido de que, os indivíduos passam a ser parte de uma sociedade, mas que esta não interfira, essencialmente, na génese do seu “EU”.
Poder-me-iam questionar o que seria a fragmentação da sociedade. Então, eu diria que é a lógica da alienação de um individuo, no sentido metafórico, no sentido de que o individuo precisa se reestabelecer como parte de si para que melhor se insira no contexto da sociedade como uma fórmula que permite a socialização, ora defendida por Max Weber, Durkheim, Platão até mesmo na perspectiva aristotélica quando tentava reformular a tradição grega, ou mesmo quando abordava sobre política.
Certamente que com a fragmentação alegórica da sociedade abriríamos a possibilidade para garantir os principios dos direitos individuais, a solidificação da postura identitária do individuo, permitindo, desta forma, a criação de um individuo que a prior sabe se definir, para depois saber situar-se no contexto da convivência social. Porque se um individuo não se entende e não compreende seus principios como um ser individual, então este mesmo individuo não saberá situar-se no meio de uma sociedade repleta de colectividades. Aliás, por isso que o mundo é definido por homens que, ao misturar-se na sociedade, perdem o seu foco, fingem ser o que os outros são, não conseguem se definir, e automaticamente perdem o elo de ligação entre a sua essência e o modo de convivência entre os seres que residem na colmeia chamada sociedade.
Quando penso na esquizoanálise (vem do germânico skhízein e significa a divisão do todo em partes) vejo um processo que serviria de veia que permitiria a eficiência na fragmentação dos indivíduos do contexto social, ao encontro do seu mundo individual. Aliás, Sigmund Freud, ao interessar-se pela histeria e, tendo como método a hipnose, influenciado por Charcot e Leibniz, tentou compreender a forma de viver dos indivíduos e penetrar nas bases da Psicanálise, com intuito de compreender os comportamentos, porque é o pensamento que vai definir no fundo a forma como as pessoas se expressam e definem-se no contexto social.
Na mesma senda de pensamento, vejo Georg Wilhelm Friedrich Hegel  que introduziu um sistema para compreender a história da filosofia e do mundo mesmo, chamado geralmente de dialéctica: uma progressão na qual cada movimento sucessivo surge como solução das contradições inerentes ao movimento anterior. Ou seja, vemos neste contexto a filosofia como factor que, ao tornar o individuo “solitário”, torna-o, ao mesmo tempo um elemento inquestionável para desenvolver-se como um ser social que sabe ser e estar, afinal esta é a ideia da fragmentação da sociedade como forma para atingir a identidade individual.
Se formos a olhar a problemática da vulgaridade identitária dos indivíduos, que pouco sabem mostrar-se diferentes no meio de uma multidão, acabamos por remontar em Herbert Marcuse quando fala da Teoria Crítica da Sociedade, num contexto da escola do simbolismo, marcada pela crença de que a linguagem é um meio de expressão simbólico em sua natureza. Nesta perspectiva, podemos olhar para a análise do comportamento  (explicação de um evento comportamental) como factor motriz da essência humana, porque sem o domínio total da linguagem, não se é livre na totalidade, porque “o comportamento é aquela parte do funcionamento de um organismo que está engajada em agir sobre ou manter intercâmbio com o mundo exterior” (Skinner, "The Behavior of Organisms: an Experimental Analysis").
Essencialmente parto, neste sentido, da ideia outrora fundamentada por Espinoza quando falava do determinismo, que propunha que absolutamente tudo que acontece ocorre através da operação da necessidade. Sendo desta forma a necessidade o factor que vai dinamizar aquilo que as pessoas lutam para ter.
Um dos factores que me remetem a da fragmentação (dos indivíduos) da sociedade tem a ver com a tradição. Porque quando a tradição africana põe em causa a cultura individual, fomenta, dessa forma, um divisionismo, ou ainda uma certa dependência quando se segue uma regra (forçada) ao ir ou não ir ao curandeiro. Ora vejamos:
Se uma determinada família gosta de visitar o curandeiro, vê-se nos cenários actuais, que o filho também deve/poderá seguir a mesma linhagem porque assim a família lhe ensinou que deveria viver. Neste processo, o vício pelos curandeiros passou a ser uma “incubadora das liberdades” se formos a analisar um cenário no qual as pessoas são obrigadas a seguir uma tradição, porque assim a família acredita que pode viver ou porque poderá melhor definir a sua vida.
A má concepção da cultura africana pode nos próximos tempos pôr um fim aos valores individuais, porque, ao serem mal interpretados ou ainda conservados, criam uma desestrutura social que mina a capacidade (individual) de os indivíduos viverem suas vidas, sem medo de serem mal interpretados por não seguirem as tradições. Daí que me coloco a questionar se não será a tradição uma forma de escravização ou formatação do pensamento das sociedades para que aceitem aquilo que alguns chamam de cultura de um povo? Não seria a tradição um empréstimo impensado do “colonialismo psicológico”?
Provavelmente há pressupostos que devem ser tidos em conta se quisermos reformular a sociedade como táctica para emissão de direitos e deveres dos indivíduos. Ora, um individuo, ao ser recolocado a um ambiente de meditação, poderia refazer-se como pessoa e ainda distinguir-se entre multidões, o que faz-me olhar para a meditação como forma autónoma de os indivíduos alcançarem a perfeição da identidade individual.
Num contexto mais sarcástico, podemos olhar a vantagem da fragmentação da sociedade analisando os problemas da “raça” que passou a definir os mundos. As pessoas se tornaram mais ignorantes e começaram a ter “motivos” para serem mais ferozes uns com os outros. O problema neste caso, para mim, não é exactamente a cor, mas sim a mediocridade da mente dos indivíduos que se querem sentir superiores, sem mesmo ter lutado por isso.
Em suma, o mundo precisa de uma formatação do “seguidismo” que faz as pessoas tentarem ser o que as outras são, criando neste processo uma negação do seu mundo para a aceitação do mundo do outrem.
É factor essencial para a formação do nosso “EU” saber porque somos o que somos e como nos identificarmos no meio de um mundo tão desigual e separatista que nega direitos aos outros e faz gente perder esperanças de seguir. Mas tudo parte do único pressuposto: As pessoas precisam saber quem elas são para saber onde elas vão, mas para tal elas precisam fragmentar-se da sociedade, viver num mundo singular de reabilitação psicossocial por forma a saber como integrar-se novamente na sociedade, sem ter que perder os seus valores como um individuo de direitos que coabita na mesma “colmeia” que os outros.


Sérgio dos Céus Nelson 

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Frente aos factos

Sobre o autor do blog

Sérgio dos Céus Nelson

Communication Officer at Lúrio University Journalist. Freelancer. Activist of Human Rights. Photographer

Communication and information specialist. Journalist. Writer. Screenwriter. Researcher. Motivator. Volunteer.

Founder of the Association of Environmental and Human Rights Journalists - AJADH and the Literary Association of Arts and Culture of Mozambique (ALARCUMO).

Contact: (+258) 829683204 or 846065018/879877312

Skype: Sérgio dos Céus Nelson

Journalist with Honorable Mention in the International Prize for Human Rights Journalism, by the Association of Public Defenders of the State of Rio Grande do Sul (ADPERGS) - Brazil.

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