quarta-feira, 23 de novembro de 2016

OS DEUSES DA LITERATURA E IGNORANTES DO CONHECIMENTO

Tente não ser como o intelectual, o doutor que morreu sem ter lido um livro sequer

Quando nos finais do último quartel do século XVIII Diderot, Mme Stael, Voltaire entre outros percursores falaram da essência do belo em literatura mostraram que não existe conhecimento sem fundamentação, seja quando eram confrontados por outras correntes da literatura, seja directa ou indirectamente, a redefinirem as suas convicções sobre o mundo que seguiam: O mundo da literatura.

A literatura como sabemos/deveríamos saber, seja desde o classicismo, parnasianismo, modernismo observou a persistência de muitos poetas ou simplesmente escritores que na ânsia de ver seu pensamento expurgado da sua mente pelejavam com bases teóricas e praticas para criar uma rede de conhecimento que os defendesse e efectivamente tornasse suas ideologias reconhecíveis e respeitadas quando falamos do panorama literário. Mas é claro que não escrevo estas laudas para falar de Fernando Pessoa, William Shakespeare, Camões.
Quando me refiro aos deuses da literatura e ignorantes do conhecimento pretendo colocar em discussão e analise as novas formas de emergência da literatura, não só "juvenil", mas também todo tipo de literatura feita na sociedade. Tem sido frequente deparar-me com novos escritores (da minha geração) que na voz de quem conhece o mundo que pisa, demonstra certa invalidez da sua consciência no poderio do sémen da literatura. Há muita gente que anda por ai, usando capa de escritores que somente assim se chama porque escreveu uma estrofe com ajuda de alguém. Não pretendo cá manchar nenhuma imagem. Mas pretendo com isto chamar a consciência, a respeito, a simplicidade e a leitura. Muitos nos falam nas Tvs de livro de Émile Durkheim, Jean Paule Sartre, Dubois, Charboneau, mesmo sem os ter lido, ou até porque ouviu alguém falando deles.
Noto que o conhecimento da literatura tem sido feito oralmente até que as pessoas morram intelectuais, doutores sem nunca ter terminado de ler um livro sequer. Ao invés de andarmos em campeonatos literários, na tentativa de mostrar quem declama mais, ou melhor que o outro, sinto que há necessidade da consciencialização de cada peregrino do néctar da literatura para sentar no seu canto solitário e escuro para esgrimir um livro pelo menos, para que se defenda nalgum parágrafo quando encontrar-se com alguém que lê de verdade.
Há poucos dias, passados sobre a minha exclamação partilhei alguns passos com alguém que dizia gostar imensamente de ler livros de todos autores. Na expectativa de ouvir dele oque sabia foi-me falar de literatura chinesa/ocidental. Sem saber que eu por vezes lia alguns livros de lá, foi-me mexer na obra de " O segredo da flor de ouro". Quando lhe perguntei na minha ignorância de quem era o livro não me conseguiu dizer, como quem publicamente demonstra a sua falsidade. Como eu o conhecia fiz-lhe saber que se tratava do livro de C. G. JUNG & R. WILHELM, livro publicado nos finais de 1929 quando C. G. Jung e o sinólogo Richard Wilhelm, um livro de vida chinês (Dornverlag, Munique). Como o livro é famoso, novamente tentou-me falar do código Da Vinci de Dan Brown, mas quando o questionei sobre o capitão Bezu Fache, códigos do Saunière e a Chave de Abóbada, o jovem ficou calado como quem estivesse sentado numa sanita. Na esperança de que conhecesse talvez algum trecho da literatura moçambicana voltei a lhe falar do "Se Obama fosse africano", "Terra Sonambula" de Mia Couto, "Xigubo" de Craveirinha, "Orgia dos Loucos", "Ualalapi" de Ungulane até mesmo "Mensagem" de Pessoa, entre Paulo Coelho, Chiziane, não me conseguiu convencer de que tenha lido um parágrafo sequer de tais obras.
Fazer literatura não é somente escrever versos sem literariedade, sem conhecer de onde a literatura vem, sem saber que foi a 10 de Marco de 1510 (se não estou em erro) que foi lançado o primeiro livro romancista na França, ou sem saber o que é gongorismo. A ignorância em literatura, assim como em vida, pode significar a desqualificação das nossas escritas. Escrever sem antecedentes, sem história pode jogar-nos num beco escuro, aprisionados na nossa ignorância de que sabemos tudo, sem mesmo sabermos. Na literatura não existem deuses. Se queres ser um deus pegue no avião amanha cedo e vá aos céus. Deste lado infernal e pecaminoso da terra somente temos aprendizes da literatura. Há gente que na sua astúcia, rudez com uma face de quem quer ser temido se pronuncia como se detivesse a enciclopédia da literatura, mesmo sem nada saber.
Antes de formarmos organizações, associações, devemos nos dedicar na leitura. Existem poucos escritores que por caminhar com eles admiro a sua façanha ou a forma como olham para a literatura, não estou a dizer com isto que sejam deuses. Mas há daqueles que por estarem a 10 ou 20 anos na literatura pensam que não há mais nada a ser lido. Até porque se consideram magnatas do saber o suficiente para não sentar na biblioteca e ler um parágrafo de Morris West, Bocage, Olavo Bilac entre outros.
Na minha ignorância, sinto que se os poetas emergentes continuarem nestes módulos vão perder-se em querer ser famosos por estarem a declamar textos nos diversos locais por onde passam. Aliás, é imperioso também pensar-se nesses textos declamados para não ter que espantar pessoas. Mesmo sabendo que estas laudas podem dar uma repercussão estranha e desastrosa para alguns, continuo na defensiva de que os textos a serem declamados nesses locais passem por uma avaliação, por um critico, e porque não preparar os tais declamadores antes mesmo de subirem aos palcos para não envergonhar os membros do grupo. Não podemos pensar que somos celebridades ao subir no palco. Devemos pensar que somos simples poetas, para através disso expelir um bom poema. Se formos a subir no palco para declamar um texto enquanto nos sentimos Jay-z, Beyoncé, Kanye West, John Legend quando vão ao Bill Board, MTV, é certo que o estrelismo vai ofuscar a nossa escrita. Sejais simples na literatura. Não procurais ser temido porque já lançastes um livro. Não é com um livro que se qualifica um escritor, mas com ele começamos a criar a identidade da tal pessoa.
Um dia desses participava numa "festa" literária e de verdade gostei de conhecer lá um escritor que num minuto de psicanálise e de sapiência fez saber aos demais que "os poetas são antenas da sociedade", baseando-se obviamente numa leitura que tivera feito antes de deslocar-se ao palco, consolidando o que eu e um companheiro de mesma mesa cochichávamos, que era sobre as diversas dificuldades na escrita. Há sim muita literatura escrita por jovens, e isso é de certa forma positivo. Mas temos que não correr o risco de pandzizar (tornar algo simples de se fazer) a literatura. Lançar um livro não pode ser como lançar um disco de dzukuta, xigumbaza, e lafamba bicha.
Claro que por vezes nos sentimos sufocados por um livro, quando nele já não vemos o que criticar. Mas é dai que surge a necessidade de procurar alguém que olhe por ele. Não existem livros perfeitos. Deixemos a perfeição para o messias que não conheceu o lado oculto da mulher.
Em todo o caso, deixo tudo ao critério da sociedade, dos poetas, dos escritores para que reflictam em torno das produções literárias para não corrermos o pecado de nos tornarmos marionetas da fama e celebrismo literário.
Poetas não são para ser temidos. Poetas não são homens de gravatas que escolhem com quem se relacionar. Poetas não são falsos, mesmo que na falsidade escrevam pensamentos. Poetas são escravos de leituras. Poetas são sacerdotes do conhecimento. Por isso, manifesto o meu repúdio e consternação ao que nota-se a cada dia. Não estou a dizer que devemos parar com tais manifestações, mas defendo a qualidade. Ensinar a quem não sabe e criticar o que tem falta de bases para criar um argumento lógico.
Ultimamente já surgem designações tais como: se quiseres ouvir um bom gajo a declamar escute o… se queres saber o que é literatura consulte o tal. Claro que há alguns que são direccionáveis porque entendem. Mas e nós os outros que dizemos ser bons na literatura para sermos temidos e conhecidos a força?
Colocar a mão na consciência é sinal de reconhecimento da nossa falta de conhecimento.
Leitura é a melhor forma de construir frases lógicas e credíveis.

Sérgio dos Céus Nelson

In pensamentos da infidelidade Poética 

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Frente aos factos

Sobre o autor do blog

Sérgio dos Céus Nelson

Communication Officer at Lúrio University Journalist. Freelancer. Activist of Human Rights. Photographer

Communication and information specialist. Journalist. Writer. Screenwriter. Researcher. Motivator. Volunteer.

Founder of the Association of Environmental and Human Rights Journalists - AJADH and the Literary Association of Arts and Culture of Mozambique (ALARCUMO).

Contact: (+258) 829683204 or 846065018/879877312

Skype: Sérgio dos Céus Nelson

Journalist with Honorable Mention in the International Prize for Human Rights Journalism, by the Association of Public Defenders of the State of Rio Grande do Sul (ADPERGS) - Brazil.

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