 |
Foto: Google |
Estamos em constante mudança. Talvez pela globalização,
ou pela rotina da vida. Mas uma coisa é certa, estamos aos poucos a entrar na
época da nudez, onde olhar para um corpo pelado e transparente não será
novidade nem estranho.
Caminhava recentemente pelas artérias da cidade de Lourenço
Marques, numa dessas caminhadas cosmopolitas singrando pela razão da existência
humana, quando o meu olhar foi roubado por um instante por uma paisagem que me
fazia lembrar exatamente da época de Adão e Eva naquele jardim sarcástico e
pecador.
De umas colantes praticamente invisíveis e uma blusa que
quase não escondia as duas laranjas internas, caminhava arfante uma
“exibicionista” em minha frente, como quem diz “mesmo se tentares esquivar o
teu olhar, não vais deixar de olhar para mim porque além de estar em promoção,
quero-lhe mostrar como está a minha fisionomia”. Claro que eu sou forte. Não
olhei. Uhm…falando a verdade olhei, mas não com a intensão. Só queria mesmo
confirmar que ela estava daquele jeito, não mais do que isso.
Isso não vem ao acaso agora, o que interessa mesmo é que
ela, num passo de camaleão doentio e com pernas quebradas fazia estilos
metamórficos que eu até me perguntava qual era o real estilo dela. Não
aguentei, lancei um sorriso. E acho que ela percebeu e de imediato parou um
segundo. Para o meu espanto vejo ela com uma nova forma de andar. Naquele
instante vi que ela estava a me tentar. Mas do meu lado quis mostrá-la que sou
mais forte. Estou a mentir. Estava a gostar de vê-la. Na verdade queria-lhe
assistir e nada mais.
Acho que ela confundiu-me com alguém. Se não me tiver
confundido provavelmente não aguentou com o meu estilo rafeiro de um peregrino
desinteressado pelas exibições. Faltavam dois passos para nos cruzarmos. De
repente passa um senhor a minha frente que assobia para a miúda. Num tom de
quem diz que “se não fosse pela idade, hoje mesmo te levava comigo”. Mas depois
passou, e lá só restei eu e a exibicionista que aos poucos tentava roubar a
atenção dos que caminhavam naquela direcção.
Já perto, engoli o ar e decidi calar. Mostrar que não
podia ceder a tais brincadeiras (atrapalhadoras) que já estão a consumir aos
poucos o bem-estar social. Passando aos poucos ao lado dela imaginei-me com uma
veda nos olhos, feito um ninja, só para não olhar a tanta exposição circulante
que esquecia-se da privacidade de seu corpo. Pode ter sido duro, mas passei sem
falar nada. Talvez esperasse que eu lhe cumprimentasse. Mas ironicamente calei
e segui o meu caminho, pensando que nada mais como aquilo poderia me aparecer
pela frente. Até quando decidi subir num desses chapas que neste tempo de calor
nos fazem ver histórias.
Ao meu lado estava ela. Coberta de roupas que aparentavam
ser restos da fábrica. Enquanto eu sentava, ouvi logo que os senhores que
estavam nos bancos de trás não queriam mais nada, senão educar aquela moça que
na verdade se sentia uma Miley Cyrus ou ainda uma Britney Spears quando sobem
nos palcos ou vão em sítios onde tentam mostrar que o seu corpo é melhor que o
do outro.
Os “Cotas” não calaram. Concentraram a miúda, até que ela
decidiu defender-se, tirando palavras inexperadas. “Se não estão aguentar com o meu estilo fala logo. Minha corpo é lindaço
e não posso esconder. Deixem eu frescar a vontade víu”. Foram palavras
dela, sem nenhuma mudança. O primeiro crime que notei foi a problemática na
construção frásica, em segundo o nível de intelectualidade que reside nas
mentes do mundo de cada cidadão.
Digo isto porque a formação da pessoa como um ser social
e vivente não se pode cingir simplesmente naquilo que nós achamos que é o certo
para nós, mas devemos também perguntar até que ponto isso pode afectar a
sociedade. Daí, desse tipo de comportamentos surge a problemática das alienações
sociais. Não estou aqui a tentar definir a vestimenta da mulher. Obvio que não,
mas não quero deixar cá de exclamar algumas formas que a sociedade me prova a
sua transformação. Não me ponho a dizer se é para o melhor ou para o pior.
Voltando no caso, depois de ela falar, os senhores
preferiram calar-se. Viram que ali poderia surgir uma guerra do Save, como a do
Dhlakama e o Governo, até que um se escondesse numa das suas imaqgináveis matas.
Só olharam para ela á espera que ela saísse do carro para desabafarem, ainda
que alguns pensassem que fosse fofoca, eles preferiram falar. Enquanto isso,
num estilo inconfundível ela levanta aos poucos como se estivesse ferida, isto
por causa da sainha dela que apertava-lhe os pés. Mas por azar a sainha levanta
na sua totalidade e de lá dentro poderíamos ler algumas letras gregas ou anglicanas.
Eu fechei de imediato os olhos de uma criança que se colocava na posição de um
adulto que pudesse ver tudo à sua frente, apesar de ela ter-se chateado comigo.
A miúda não podia fazer nada, senão baixar o “cinto” que
servia de saia e na mansinha seguir o seu rumo. Claro, envergonhada. Do meu
lado, de repente assustei-me com os risos que não queriam parar. Parecia-me que
alguém fosse desmaiar por de tanto rir.
Mas esses dois não foram os únicos casos. Eu tenho visto
muitas cenas “românticas”. Gente que aparentemente passeia de lingeries na
estrada, numa inteira frescura. “ Que se lixe o mundo. Quem quiser olhar vai olhar,
e quem quiser me chamar ainda melhor, vamos fazer histórias”, assim pensam
algumas.
Estranho meu artigo? Só pode achar estranho para quem
nunca viu as coisas que estou aqui a citar. Pelo menos deste lado da capital,
apreciar a fisionomia feminina deixou de ser problema. É só sair de casa e dar
umas voltas pelas artérias da cidade, pura pornografia pública.
Não precisa chegar nas ruas “proibidas”. Falo de locais
públicos, trabalhos, escritórios, bancos, hotéis, restaurantes, assim como em
locais de ensino, onde parece-me que também já virou uma passarela, onde
desfila-se toda classe, onde ainda compete-se entre docentes e estudantes. Quem
vence é quem traz o que está na moda.
 |
Foto: Google |
O mundo dos “velhos” ficou mesmo para trás. Agora estamos
na fase de criação de um novo mundo, onde a apreciação diurna por vezes ofusca
a concentração, o bem-estar social, a singularidade, a pureza dos seres, o
respeito e a honra. Tudo isto, porque alguns de nós achamos que não podemos
ficar alienados da moda seja brasileira, chinesa, ou ainda da “moda da nudez”.
Ah…estava para esquecer que ontem estava ali naquela
avenida Guerra popular enquanto esperava um amigo meu. Foram cerca de 20
minutos quando vi de lá do fundo da avenida uma senhora, dos seus 40 e tal
anos, seguindo toda estilosa como quem diz “não pense que estou ultrapassada”.
Me convenceu e fiquei estatelado de boca fechada.
Ela estava toda lipsiada (coberta de lips/batom), com
unhas de leopardo que davam para assustar por sua extensão. Eram tão grandes
que me perguntei se ela conseguia cozinhar em casa. Mas esse não é problema
meu, sem dúvidas.
O que me impressionou foram as vestes. Estava dum
vestidinho de menina de 14 anos que aproveita sua adolescência. Um vestidinho
amarelo que fazia-nos ver as rugas dos pés dela que descreviam o percurso de
sua vida. As veias demonstravam ser dos anos 80 ou 70 e tal. Convicta de que
estava na moda chegou perto de um jovem parado em minha frente e segurou
naquele poste que está ali na paragem. Aqueles postes de vigilâcia que acabam
de ser isntalados. Pensei que fosse uma pecadora de lá das avenidas do “paga e
aproveita”, mas de repente vi seu “marido” chegar perto. Um velhote quase da
mesma idade que ela. Parou o seu Isuzu KB de caixa aberta e levou-a.
Minutos depois senhoras resmungavam. “Estas senhoras de
hoje não tem respeito”, assim diziam. E eu pensava: “de que senhora de hoje
elas falam se aquela era dos anos 70”. Percebi naquele momento que o momento de
txillings e de swaggers não exclui ninguém. São velhotas, são meninas verdes,
são casadas… todos estão nessa onda.
Pode-se pensar que estou a ser machista só por estar a
falar das mulheres, mas não é o caso porque agora quero falar dos homens.
Convenci-me quando chegou sábado acompanhado deste verão
que já se vai acabando. Os meninos das zonas mudam cada vez de estilo e
parece-me que estão a tentar roubar o lugar das mulheres. Primeiro vi um rapaz
com o famoso “corte do galo” todo colorido passando frente ao Shopping Center.
Fazia-se acompanhar de uma mocinha com careca e jeans rasgadas.
O jovem fazia-se vestir de umas colantes apertadas que
esculpiam sua natureza. Com uma camiseta cor-de-rosa e uns brincos
aparentemente de diamante (mas não eram) saltitava como se tivesse medo que o chão
se partisse. Aquele estilo é terrível e cansativo. Saltava em cada passo que
fazia-se perceber que ele só podia ser um certo tipo de atleta.
E o meu irmão joaozinho do bairro de Mafalala que se
sente feliz por surgimento de novas modas? Sabes, esta coisa de swagger não é tão
mal para todos. Joaozinho está feliz porque antigamente tinha tanto medo de
usar aquelas jeans rasgadas que tinha deixado na mala com esperança de mandar
cozer. Com estas evoluções, sentiu-se abençoado porque pode usar livremente
aquelas calças com cortes nos joelhos e nas nádegas sem medo de ser apedrejado.
E as modas vão evoluindo...
Sérgio dos Céus Nelson
1 comentários:
Write comentáriosViva Sergio. Lindo artigo. Na verdade, a forma como as manas se apresentam na maiorias das vezes, nao nos dao alternativas para desviarmos a cabeca e pensarmos em outras coisas, senao nelas!
Reply