quinta-feira, 6 de abril de 2017

NUDEZ A VISTA: ÉPOCA DAS EXIBIÇÕES

Foto: Google
Estamos em constante mudança. Talvez pela globalização, ou pela rotina da vida. Mas uma coisa é certa, estamos aos poucos a entrar na época da nudez, onde olhar para um corpo pelado e transparente não será novidade nem estranho.
Caminhava recentemente pelas artérias da cidade de Lourenço Marques, numa dessas caminhadas cosmopolitas singrando pela razão da existência humana, quando o meu olhar foi roubado por um instante por uma paisagem que me fazia lembrar exatamente da época de Adão e Eva naquele jardim sarcástico e pecador.
De umas colantes praticamente invisíveis e uma blusa que quase não escondia as duas laranjas internas, caminhava arfante uma “exibicionista” em minha frente, como quem diz “mesmo se tentares esquivar o teu olhar, não vais deixar de olhar para mim porque além de estar em promoção, quero-lhe mostrar como está a minha fisionomia”. Claro que eu sou forte. Não olhei. Uhm…falando a verdade olhei, mas não com a intensão. Só queria mesmo confirmar que ela estava daquele jeito, não mais do que isso.
Isso não vem ao acaso agora, o que interessa mesmo é que ela, num passo de camaleão doentio e com pernas quebradas fazia estilos metamórficos que eu até me perguntava qual era o real estilo dela. Não aguentei, lancei um sorriso. E acho que ela percebeu e de imediato parou um segundo. Para o meu espanto vejo ela com uma nova forma de andar. Naquele instante vi que ela estava a me tentar. Mas do meu lado quis mostrá-la que sou mais forte. Estou a mentir. Estava a gostar de vê-la. Na verdade queria-lhe assistir e nada mais.
Acho que ela confundiu-me com alguém. Se não me tiver confundido provavelmente não aguentou com o meu estilo rafeiro de um peregrino desinteressado pelas exibições. Faltavam dois passos para nos cruzarmos. De repente passa um senhor a minha frente que assobia para a miúda. Num tom de quem diz que “se não fosse pela idade, hoje mesmo te levava comigo”. Mas depois passou, e lá só restei eu e a exibicionista que aos poucos tentava roubar a atenção dos que caminhavam naquela direcção.
Já perto, engoli o ar e decidi calar. Mostrar que não podia ceder a tais brincadeiras (atrapalhadoras) que já estão a consumir aos poucos o bem-estar social. Passando aos poucos ao lado dela imaginei-me com uma veda nos olhos, feito um ninja, só para não olhar a tanta exposição circulante que esquecia-se da privacidade de seu corpo. Pode ter sido duro, mas passei sem falar nada. Talvez esperasse que eu lhe cumprimentasse. Mas ironicamente calei e segui o meu caminho, pensando que nada mais como aquilo poderia me aparecer pela frente. Até quando decidi subir num desses chapas que neste tempo de calor nos fazem ver histórias.
Ao meu lado estava ela. Coberta de roupas que aparentavam ser restos da fábrica. Enquanto eu sentava, ouvi logo que os senhores que estavam nos bancos de trás não queriam mais nada, senão educar aquela moça que na verdade se sentia uma Miley Cyrus ou ainda uma Britney Spears quando sobem nos palcos ou vão em sítios onde tentam mostrar que o seu corpo é melhor que o do outro.
Os “Cotas” não calaram. Concentraram a miúda, até que ela decidiu defender-se, tirando palavras inexperadas. “Se não estão aguentar com o meu estilo fala logo. Minha corpo é lindaço e não posso esconder. Deixem eu frescar a vontade víu”. Foram palavras dela, sem nenhuma mudança. O primeiro crime que notei foi a problemática na construção frásica, em segundo o nível de intelectualidade que reside nas mentes do mundo de cada cidadão.
Digo isto porque a formação da pessoa como um ser social e vivente não se pode cingir simplesmente naquilo que nós achamos que é o certo para nós, mas devemos também perguntar até que ponto isso pode afectar a sociedade. Daí, desse tipo de comportamentos surge a problemática das alienações sociais. Não estou aqui a tentar definir a vestimenta da mulher. Obvio que não, mas não quero deixar cá de exclamar algumas formas que a sociedade me prova a sua transformação. Não me ponho a dizer se é para o melhor ou para o pior.
Voltando no caso, depois de ela falar, os senhores preferiram calar-se. Viram que ali poderia surgir uma guerra do Save, como a do Dhlakama e o Governo, até que um se escondesse numa das suas imaqgináveis matas. Só olharam para ela á espera que ela saísse do carro para desabafarem, ainda que alguns pensassem que fosse fofoca, eles preferiram falar. Enquanto isso, num estilo inconfundível ela levanta aos poucos como se estivesse ferida, isto por causa da sainha dela que apertava-lhe os pés. Mas por azar a sainha levanta na sua totalidade e de lá dentro poderíamos ler algumas letras gregas ou anglicanas. Eu fechei de imediato os olhos de uma criança que se colocava na posição de um adulto que pudesse ver tudo à sua frente, apesar de ela ter-se chateado comigo.
A miúda não podia fazer nada, senão baixar o “cinto” que servia de saia e na mansinha seguir o seu rumo. Claro, envergonhada. Do meu lado, de repente assustei-me com os risos que não queriam parar. Parecia-me que alguém fosse desmaiar por de tanto rir.
Mas esses dois não foram os únicos casos. Eu tenho visto muitas cenas “românticas”. Gente que aparentemente passeia de lingeries na estrada, numa inteira frescura. “ Que se lixe o mundo. Quem quiser olhar vai olhar, e quem quiser me chamar ainda melhor, vamos fazer histórias”, assim pensam algumas.
Estranho meu artigo? Só pode achar estranho para quem nunca viu as coisas que estou aqui a citar. Pelo menos deste lado da capital, apreciar a fisionomia feminina deixou de ser problema. É só sair de casa e dar umas voltas pelas artérias da cidade, pura pornografia pública.
Não precisa chegar nas ruas “proibidas”. Falo de locais públicos, trabalhos, escritórios, bancos, hotéis, restaurantes, assim como em locais de ensino, onde parece-me que também já virou uma passarela, onde desfila-se toda classe, onde ainda compete-se entre docentes e estudantes. Quem vence é quem traz o que está na moda.
Foto: Google
O mundo dos “velhos” ficou mesmo para trás. Agora estamos na fase de criação de um novo mundo, onde a apreciação diurna por vezes ofusca a concentração, o bem-estar social, a singularidade, a pureza dos seres, o respeito e a honra. Tudo isto, porque alguns de nós achamos que não podemos ficar alienados da moda seja brasileira, chinesa, ou ainda da “moda da nudez”.
Ah…estava para esquecer que ontem estava ali naquela avenida Guerra popular enquanto esperava um amigo meu. Foram cerca de 20 minutos quando vi de lá do fundo da avenida uma senhora, dos seus 40 e tal anos, seguindo toda estilosa como quem diz “não pense que estou ultrapassada”. Me convenceu e fiquei estatelado de boca fechada.
Ela estava toda lipsiada (coberta de lips/batom), com unhas de leopardo que davam para assustar por sua extensão. Eram tão grandes que me perguntei se ela conseguia cozinhar em casa. Mas esse não é problema meu, sem dúvidas.
O que me impressionou foram as vestes. Estava dum vestidinho de menina de 14 anos que aproveita sua adolescência. Um vestidinho amarelo que fazia-nos ver as rugas dos pés dela que descreviam o percurso de sua vida. As veias demonstravam ser dos anos 80 ou 70 e tal. Convicta de que estava na moda chegou perto de um jovem parado em minha frente e segurou naquele poste que está ali na paragem. Aqueles postes de vigilâcia que acabam de ser isntalados. Pensei que fosse uma pecadora de lá das avenidas do “paga e aproveita”, mas de repente vi seu “marido” chegar perto. Um velhote quase da mesma idade que ela. Parou o seu Isuzu KB de caixa aberta e levou-a.
Minutos depois senhoras resmungavam. “Estas senhoras de hoje não tem respeito”, assim diziam. E eu pensava: “de que senhora de hoje elas falam se aquela era dos anos 70”. Percebi naquele momento que o momento de txillings e de swaggers não exclui ninguém. São velhotas, são meninas verdes, são casadas… todos estão nessa onda.
Pode-se pensar que estou a ser machista só por estar a falar das mulheres, mas não é o caso porque agora quero falar dos homens.
Convenci-me quando chegou sábado acompanhado deste verão que já se vai acabando. Os meninos das zonas mudam cada vez de estilo e parece-me que estão a tentar roubar o lugar das mulheres. Primeiro vi um rapaz com o famoso “corte do galo” todo colorido passando frente ao Shopping Center. Fazia-se acompanhar de uma mocinha com careca e jeans rasgadas.
O jovem fazia-se vestir de umas colantes apertadas que esculpiam sua natureza. Com uma camiseta cor-de-rosa e uns brincos aparentemente de diamante (mas não eram) saltitava como se tivesse medo que o chão se partisse. Aquele estilo é terrível e cansativo. Saltava em cada passo que fazia-se perceber que ele só podia ser um certo tipo de atleta.
E o meu irmão joaozinho do bairro de Mafalala que se sente feliz por surgimento de novas modas? Sabes, esta coisa de swagger não é tão mal para todos. Joaozinho está feliz porque antigamente tinha tanto medo de usar aquelas jeans rasgadas que tinha deixado na mala com esperança de mandar cozer. Com estas evoluções, sentiu-se abençoado porque pode usar livremente aquelas calças com cortes nos joelhos e nas nádegas sem medo de ser apedrejado.
E as modas vão evoluindo...

Sérgio dos Céus Nelson

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Frente aos factos

Sobre o autor do blog

Sérgio dos Céus Nelson

Communication Officer at Lúrio University Journalist. Freelancer. Activist of Human Rights. Photographer

Communication and information specialist. Journalist. Writer. Screenwriter. Researcher. Motivator. Volunteer.

Founder of the Association of Environmental and Human Rights Journalists - AJADH and the Literary Association of Arts and Culture of Mozambique (ALARCUMO).

Contact: (+258) 829683204 or 846065018/879877312

Skype: Sérgio dos Céus Nelson

Journalist with Honorable Mention in the International Prize for Human Rights Journalism, by the Association of Public Defenders of the State of Rio Grande do Sul (ADPERGS) - Brazil.

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1 comentários:

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6 de abril de 2017 às 02:11 delete

Viva Sergio. Lindo artigo. Na verdade, a forma como as manas se apresentam na maiorias das vezes, nao nos dao alternativas para desviarmos a cabeca e pensarmos em outras coisas, senao nelas!

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