sábado, 7 de julho de 2018
Crítica do “Trama Fantasma”: (Uma fusão entre o autoritarismo e um “feminismo” forte)
[Luz. Câmera.
Acção.]
A vida nos últimos tempos tem desafiado as sociedades a
discutirem sobre o papel do homem e da mulher na esfera social. Tais dinâmicas
têm também criado espaço para que a mulher se defina em todas as perspectivas.
Isso é o que podemos ver no filme “Phantom Thread (Trama Fantasma) ”.
O filme que ilustra a vida dos anos 1950 retrata a vida de
Reynolds Woodcock (Daniel Lewis), um estilista renomado que trabalha junto de
Cyril (Lesley Manville), sua irmã, para vestir pessoas importantes, grandes
nomes da realeza e da elite britânica. O mundo que servia de motivo de inspiração
para Woodcock era resultado de suas relações com mulheres que as conhecia,
algumas vezes propositadamente, no percurso de sua vida. Mas tal muda de
dinâmica, de forma quase que bruta, quando conhece Alma (Vicky Krieps), uma
mulher de forte personalidade, que tempo depois de alguns encontros vira sua
amante.
Com seis
indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, melhor ator (Daniel Day-Lewis),
melhor diretor (Paul Thomas Anderson), o
“Trama Fantasma”, além de ser um dos filmes mais elogiados de 2017, mostra uma evolução
de Paul Thomas Anderson, depois do “Sangue negro”.
A personalidade de Woodcock nos faz pensar na importância
de assistir o filme “Conselheiro amoroso”, interpretado por Will Smith e Eva
Mendes, para perceber como se comportar num relacionamento. Talvez fosse isso
que o Woodcock mais precisava, tendo em conta a sua postura quase que
arrogante, de um homem tradicional que dificilmente abandona suas crenças.
Apesar de o filme transmitir a ideia de ser
descontextualizado, tendo em conta a evolução do mundo, o “Trama Fantasma”
mostra-se uma autentica problematização dos factos actuais que vão até a forma
como as sociedades são segmentadas, seja por causa da excelente trilha sonora
que justifica a óptima trama, facto que me leva a dizer que os 35 milhões USD
de orçamento para a produção do filme foram bem justificados, se termos em
conta o facto de o filme, lançado a 1 de Fevereiro de 2018 (Alemanha), ter
ganho o Óscar de Melhor Figurino.
É sem dúvidas um motivo para dizer que Paul Anderson (26
de Junho de 1970), é uma boa aposta no cinema, não só por ter sido nomeado duas
vezes ao melhor Óscar de melhor Roteiro original por “Boogie Nights” e “Magnólia”,
mas também por se mostrar um dos melhores realizadores dos últimos tempos.
“Trama Fantasma” pode parecer apenas um filme que
aparentemente aborda factos sobre as elites, mas é sem dúvidas uma boa trama
que debate a forma como as relações sociais e afectuosas são construídas nas
sociedades modernas, onde, de certa forma, a mulher parece continuar sendo
olhada como o “género” fraco, que apenas lhe cabem actividades domésticas.
O “Trama Fantasma” merece, sem dúvidas 4 estrelas e uma
nota de 8 (numa escala de 0-10), porque ao assistirmos o desenrolar da história
percebemos que o “Trama Fantasma” é aquele filme digno de ser exemplar (no bom
sentido), em todos os níveis, porque pode se ver um excelente envolvimento de
todos os personagens na trama, com cenas bem definidas e um figurino que faz
jus ao tipo de filme que se apresenta. É um filme para ser visto e revisto.
Ao analisarmos a extrema confiança de Woodcock pela
Cyril, mostra o quanto os actores foram além do roteiro e conseguiram
estabelecer uma boa relação de irmãos e a ideia de uma irmã que aconselha seu
irmão, quando Woodcock demonstra sua apatia com a ideia das roupas “Chicks”,
que segundo ele deturpavam a ideia da moda.
Mesmo parecendo "rude" como Arnold Swarzennegger no
“Commando”, por causa da fúria depois de raptada sua filha, Woodcock mostra-se
amolecido na cena em que Alma decide sair para dançar e Woodcock a segue, assim
como na cena em que Woodcock ele mostra-se derrotado quando Alma, mulher
confiante nos seus instintos, decide cozinhar como Woodcock gostava, usando a
manteiga, enquanto ele a olhava profundamente e de repente fica surpreso com o
“Te amo” da sua amada.
Para um Homem que mostrava sua tamanha seriedade, como Sam
Camflin no “Eu depois de ti”, por causa da morte que lhe esperava, Woodcock
conseguiu quebrar o pensamento que tinha de usar a Alma apenas para conseguir
desenhar sua nova linha de vestidos, principalmente quando este mostra que
tinha sensibilidade e medo de perder sua amada, mesmo que Alma o tenha escutado
a dizer a Cyril que ela não fazia parte da construção de sua casa e quando
mostrou-se silencioso, talvez incerto, quando Alma lhe disse pela primeira vez
que o amava.
Mas mesmo que Woodcock fosse um homem que não se
apegava a mulheres, por as olhar como descartáveis, conseguiu fazer a transição
de um “vilão amoroso”, para um “gentleman” que começava a aprender a agradar
uma mulher.
Acima de tudo, Woodcock precisou aprender a respeitar,
perceber/compreender Alma que mostrava-se uma mulher com uma veia forte, que
sabia como conquistar e domar um homem quando ele disse a Woodcock que “ quero
te ver fraco, para depois te ver forte”.
Assim como Woodcock, Alma precisou fazer transição do seu
mundo para o mundo de Woodcock, porque aprendeu, por exemplo, a respeitar os
momentos de silêncio de seu amante, depois marido, que não gostava de barulho.
O clima entre Woodcock e Alma foi o ponto auge do filme,
na cena em que Woodcock olha para Alma e diz “uma casa não que não muda é uma
casa morta” e em seguida pede Alma em casamento e ela o olha profundamente e
fica sem palavras, para depois dizer o “SIM”, mesmo que depois tenha perguntado
de volta ao Woodcock se ele queria casar com ela, como se ela quisesse mostrar
que ela também poderia fazer o mesmo.
“Trama Fantasma”mostra o profissionalismo na produção de
Joanne Sellar, Paul Megan e Daniel. A narrativa nos desperta para o dia-a-dia
das nossas vidas, na sociedade. Algo interessante que foi bem trabalhado, mas
que até poderia ter sido melhor, foi a questão das cores que enquadrou-se bem
no filme, sem mencionar o facto de o filme ter apresentado um roteiro
inteligente, com suspense, mas divertido, que manteve a emoção forte e surpresas
em cada cena.
A trilha sonora poderia ter sido mais melhor, mas mesmo
assim conseguiu se enquadrar, principalmente nos momentos de silêncio,
suspense, assim como a fantástica expressão dos actores, desde os protagonistas
(Woodcock e Alma) à co-protagonista (Cyril).
Talvez pela experiencia do
“Punch-Drunk Love” (comédia romântica) merecedor do Melhor Director no Festival
de Cannes, “Magnólia” que lhe garantiu Urso de Ouro ou “There will be Blood”
que lhe garantiu Urso de Para de Melhor Director em Berlim, Paul Anderson sem
dúvidas apresentou uma boa proposta cinematográfica que foi bem justificada
através dos bons enquadramentos das cameras, com boas técnicas de filmagem, o
que causou um bom impacto do filme.
Ainda que não chegue as bilheteiras
do “Titanic” de Leonardo DiCaprio ou “Pantera Negra” de Chadwick Boseman que
gladia com Michael B. Jordan, “Trama Fantasma” é sem dúvidas uma boa aposta
para quem quer sentar numa noite sobre o sofá e apreciar uma linda trama
comendo umas pipocas.
Sérgio dos Céus Nelson
Sobre o autor do blog
Sérgio dos Céus Nelson
Communication Officer at Lúrio University Journalist. Freelancer. Activist of Human Rights. Photographer
Communication and information specialist. Journalist. Writer. Screenwriter. Researcher. Motivator. Volunteer.
Founder of the Association of Environmental and Human Rights Journalists - AJADH and the Literary Association of Arts and Culture of Mozambique (ALARCUMO).
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Journalist with Honorable Mention in the International Prize for Human Rights Journalism, by the Association of Public Defenders of the State of Rio Grande do Sul (ADPERGS) - Brazil.