sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017
DO HUMANISMO AO REPTILISMO FEROZ
“A bala não
escolhe a vítima, mas o atirador sim”
Definir
a essência de um ser humano é muito mais que analisá-lo pelo sorrir, andar ou
pelo que diz (as vezes) – o que me remete a repensar na sua própria criação.
Não me vou alongar na discussão de que “o homem vem das mãos de Deus” ou mesmo
que “o nada nunca existiu”. O ponto importante no meio de tanta discussão é que
o Homem existe e ele vai se metamorfoseando cada dia que passa. Vai se tornando
cada vez mais camaleão (difícil de distinguir a sua “cor” verdadeira) e ao
mesmo tempo mostrando que é, por natureza, um ser insaciável ou insatisfeito.
Acredito
que, particularmente para nós os países em vias de desenvolvimento, precisamos
remodelar a nossa perspectiva de vida, seja ela política, econômica ou social,
por forma a perceber o impacto das atitudes que vamos tomando e as consequências
das decisões que tomamos num futuro próximo. O nosso erro, neste caso, é
pensarmos, previamente, no presente e nos limitarmos em viver o hoje sem pensar
que o amanhã precisa ser preparado.
Lutar
por uma causa, seja ela humanitária, político-social, etc, significa muito mais
que lutar por nossos direitos, porque é ao mesmo tempo, uma demonstração de
interesse em fazer com que os próximos não sofram tantas represálias ou
injustiças por fazerem parte de uma sociedade. Tais “represálias” que podem ser
vistam no contexto guerras raciais, xenofobias, guerras étnicas, religiosas e preconceitos.
Este
pensamento faz-me remontar na ideia de que o ser humano limitou-se de viver a
sua plena liberdade quando ele decide viver em sociedade. Porém, a sociedade é
ao mesmo tempo num sentido (contraditório) um “elemento” que fortifica a
essência de um ser. Poderia dizer que a sociedade é um mal necessário? Não sei.
Na verdade, não posso me colocar a pensar nisso agora. É preciso sim perspectivar
um futuro, olhando para aquilo que se faz, que se reporta e que vivemos a cada
dia: Essa sim é a fórmula para perceber o que vem pelos próximos tempos.
O
ponto, essencial, de debate é exatamente o surto continuo e frequente de
diversos atropelos de liberdades individuais ou ainda contenciosos que põem em
causa o desenvolvimento dos estados. É possível falarmos agora da guerra
intra-estados (dentro dos estados) como forma de retrocesso do desenvolvimento sustentável?
Obvio que sim, vivemos num cenário em que o diálogo é um pacote comprado em
tempos de limpar os lábios já avermelhados de tanto comer carnes. O dialogo
deixou de ser um elemento fulcral para a essência de definição de um estado e
suas prioridades.
É
preciso perceber que quando falo de “Do humanismo ao reptilismo feroz” pretendo
problematizar (problematizando) a questão de guerras inventadas para justificar
determinadas atitudes “programadas”, com “soluções” para tais atitudes
previstas. Ou seja, vivemos um cenário em que a guerra não se pode olhar
simplesmente no contexto arma contra arma. Precisamos sim perceber a guerra no
conflito psicológico.
Nos
últimos tempos a guerra que mais me
amedronta não são as guerras armas contra armas, mas sim guerras ideológicas,
guerras psicológicas. É inquestionável que o que vai parar as guerras não são as
armas, mas sim mentes produtivas, capazes de criar pensamentos sustentáveis
e inovadores, perspectivando sempre um futuro mais cômodo.
Coloco-me
a falar da guerra psicológica porque é dessa forma que facilmente se abatem batalhões,
exércitos ou legionários, assim como a crença de uma sociedade que facilmente crê
no que ouve e vê. A estratégia de batalha é muito fácil de entender quando
lemos Sun Tzu (In “A arte da guerra”) quando nos diz que precisamos transformar
o medo em coragem para derrotar o inimigo, mas no contexto actual vivemos num
outro cenário.
A
ideologia de uma guerra deixou de ser frontal, corpo a corpo. Estamos numa era
em que a guerra é projectada virtualmente, naquilo que baixamos, que fazemos
upload nas nossas redes sociais, e naquilo que fazemos os likes: é sem dúvidas
um momento de incertezas perante tudo o quanto existe. Mas não se pode deixar
de acreditar na mudança de mentalidades. Se isso acontecer então o mundo estará
mesmo entregue e vamos fazer com que Lúcifer (se ele for de verdade o diabo - o
mau da fita) mais orgulhoso de nós.
Como
viver neste cenário? Não há formulas secretas. Não há uma luz tão encantadora
do que aquela que aparece na escuridão em momentos de medo. Mas precisamos
perceber que certas luzes somente servem para nos iluminar e tornar-nos alvos fáceis
de abater. Esta é a nova ordem mundial: Destrua o que te impede de progredir...assim
eles pensam.
Soluções?
Não as prevejo tão cedo senão persistirmos. Soluções para que o cenário se
modifique é esperarmos que surja uma nova geração, mas enquanto isso não acontece
deve-se ir criando mecanismos para que o que existe não seja destruído enquanto
assistimos. É sim preciso perceber que o papel de fazer mudança não é só político,
pois, cada um precisa engrenar na derradeira aventura que é de fazer algo que
justifique a sua crença na mudança dos cenários.
Mas
e os media, onde eles ficam nessa história? O jornalismo e os media ficam onde sempre estiveram. Há
bom e mau jornalismo. O mau seria obviamente o que é transformado para cumprir
ordens, agradar elites, ocultar verdades, ainda que isso ofusque a realidade
das coisas. O “bom” jornalismo? Vou preferir acreditar que é aquele que traz à
tona as verdades que precisam ser do conhecimento das sociedades. Mas há um
porém, como medir ou identificar o bom do mau jornalismo? Fica difícil, porque até
reportagens feitas sobre direitos humanos, algumas são programadas, forjadas e
totalmente maquiadas (sobre o jornalismo falo mais no meu artigo “O jornalismo
de maquiagem”, a publicar nos próximos tempos).
Olhando
para o contexto moçambicano, temos é sim que acreditar que estamos num país com
boas e óptimas promessas de crescimento, caso se desista dos conflitos. Moçambique
é sem dúvidas um país que tem óptimas condições de ser uma “Nova Iorque” de
África. Mas para isso precisamos de criar mecanismos para cessar mentalidades
belicistas que põem em causa o rumo do desenvolvimento.
Por
exemplo, a guerra do Save, Gorongza são provas, primeiro de que há fraqueza
como estado e como governo em resolver problemas que nos apoquentam internamente
(conflitos intra-estado). Segundo, se houvesse uma nova colonização, os partidos
nacionais (ou países africanos) dificilmente se uniriam para lutar contra o
inimigo. Mas é importante perceber que a questão de ódios partidários, às vezes,
é como uma cara cheia de maquiagem, basta um calor e sol forte para fazer
derreter tudo e mostrar a verdadeira identidade, ou seja, pode haver muita
falsidade no ódio que se tem revelado entre os partidos.
É
essencialmente um cenário em que a programação dos factos consolidou o modo de
vida das sociedades. Não só falo de Moçambique, como poderia falar de Angola, o
controlo de Jose Eduardo dos Santos sobre o “ouro” angolano, assim como poderia
mencionar Jammeh. É questão de pararmos para repensar África, numa perspectiva
mais interna, realista e individualizada. Porque os conflitos, alguns, são provas
concretas de atitudes de infiltrados exteriores que são programados para
destruir estados.
Há
um olho em cada estado programado para destruir o desenvolvimento dos países. Aí
é que está o cerne da questão: África
precisa libertar-se, pensar com próprios pés e visualizar o seu próprio mapa
de desenvolvimento.
É
sem dúvidas que não é a bala que escolhe a vítima, mas sim o atirador. Este pensamento
surge na ideia de que os alvos são metas planificadas que muitas vezes até a
bala “perdida” já tinha sido programada para atingir.
Mas
a ferocidade humana vai além disso, as guerras raciais são provas concretas. A perseguição
contra os gays, lésbicas (LGBT) é um crime que ainda não se levou como preocupação
mundial, mas é um sinal do fim dos tempos. A Xenofobia, prova da fraqueza dos
povos em resolver problemas, é um sinal de que os negros continuam aceitando
ser os Homens da selva, que brincam de salta-salta nas árvores das florestas.
A
xenofobia (luta de negro contra negros) mostra o lado mais selvagem quando se
queima gente em pneus...facadas, etc. será isto sinal de sinal de apocalipse? Não.
O apocalipse é para os deuses...divinos.
A xenofobia é sim uma chacina, demonstração da ferocidade do ser humano.
É
preciso mudar-se de perspectiva e encarar o mundo como um desafio que surge
para marcar rumo das coisas. Quando falo do rumo das coisas, refiro-me a
necessidade de perceber que a necessidade de lutar por um desenvolvimento das
sociedades é uma realidade que deve ser agarrada de braços firmes, por forma a
implementar mecanismos para minimizar as disparidades, sejam elas a nível das
oportunidades, direitos ou deveres, assim como nas liberdades individuais.
Sérgio dos Céus Nelson
Sobre o autor do blog
Sérgio dos Céus Nelson
Communication Officer at Lúrio University Journalist. Freelancer. Activist of Human Rights. Photographer
Communication and information specialist. Journalist. Writer. Screenwriter. Researcher. Motivator. Volunteer.
Founder of the Association of Environmental and Human Rights Journalists - AJADH and the Literary Association of Arts and Culture of Mozambique (ALARCUMO).
Contact: (+258) 829683204 or 846065018/879877312
Skype: Sérgio dos Céus Nelson
Journalist with Honorable Mention in the International Prize for Human Rights Journalism, by the Association of Public Defenders of the State of Rio Grande do Sul (ADPERGS) - Brazil.