quarta-feira, 12 de abril de 2017

CADÊ OS DEFENSORES DA MORALIDADE NA ACTUALIDADE?

Foto: Google
Em muitos anos a moral foi um tema que definia comunidades ou povos. Os defensores incansáveis da moral (que poderei tratar de “moralistas”) sempre procuraram colocar na mente dos indivíduos a necessidade de preservar as boas maneiras como forma de criar-se uma sociedade “ideal”, onde reinasse o respeito, não só um para com o outro, mas também o respeito pelas “normas” sociais.

Falar hoje em dia de moralistas parece falar da existência de Jesus Cristo que muitos preferem ver com seus próprios olhos. As escolas moralistas parecem ter sigo extinguidas e com isso os debates sobre a moralidade se foram reduzindo aos poucos, trazendo ao mundo um caos que não se consegue controlar se formos a olhar para os últimos cenários onde a humanidade parece ter perdido o controle das coisas, do respeito, da honestidade, da ética e da dignidade.
Sendo a moral um conjunto de regras e prescrições a respeito do comportamento, de conduta consideradas como válidas dentro de uma sociedade, comunidade ou grupo de indivíduos, ela ao mesmo tempo serve como instrumento para mensurar o estado de consciência dos indivíduos. Tal “estado de consciência” seria perceber se os indivíduos percebem como agem, porque assim agem ou ainda, se percebem a gravidade dos actos que cometem.
Ainda que a moral não seja uma lei que deve ser cumprida, aliás, até a própria lei não foi feita para ser cumprida, porém, quem não a cumprir pode ser sancionado (contradição da lei). Ou melhor, há na moral implicitamente regras que quando não cumpridas elas definem os indivíduos (bons ou maus?).
Se por exemplo formos analisar os últimos cenários das carnificinas dos óleos e gasolinas derramadas sobre os corpos de Homens, poderíamos perceber que há, provavelmente, uma necessidade, não só de se discutir a sanidade mental dos criminosos, mas também debater a moralidade nas sociedades actuais para reconfigurar e restaurar a estabilidade ideal nas sociedades. Mas falo da estabilidade no sentido relacionamento Homens para Homens, porque este é o que nos vai garantir se tais relações são frutíferas ou delas surgem rivalidades.
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Perguntar sobre os moralistas na actualidade me parece crucial, se formos a perceber que os temas sobre política passaram a definir o rumo mundial, aliás, sempre definiram. Mas mesmo quando a política surge, a moral existia até para definir aqueles que na altura chamaríamos de líderes e hoje chefes. Neste caso, acredito que o mundo está numa fase de se despir, uma fase de nudez relativamente aos valores, a prevalência de um bom caracter nos indivíduos, a verdade, até, muitas das vezes, o respeito entre os Homens.
Estamos num cenário em que os pensamentos, de que “cada um deve lutar pela sua vida” ou que “não adianta agradar a todos porque é impossível”, fazem dos indivíduos ignorantes, não por natureza, mas por aceitação e decisão, criando na sociedade o que eu chamaria de alienação dos valores morais entre relações humanas.
Eram considerados morais, num passado recente, os Homens que respeitavam os mais velhos, que sabiam ceder espaço aos que em condições deficitárias se encontrassem, aqueles que sabiam ser na sociedade, tal saber ser que inclui a postura, a forma como se apresentavam, etc.
Olhando para estas (algumas) características daqueles que seriam moralmente aceites, podemos indagar o tipo de moralidade que precisamos no século 21, ou se a moral sempre exaltada tem espaço e aceitação nos tempos actuais. Ora vejamos, estamos em cenários de autentica roptura com a coisas básicas que definiam os indivíduos.
Por um lado, temos o respeito que passou a ser uma utopia e um desconhecimento para muitos indivíduos que lhes falta “serenidade” suficiente para, de boa forma dirigir-se a um mais velho, mostrando que as boas maneiras não foram esquecidas.
Estamos num mundo em que, se formos a pensar pornograficamente, o sexo (prática sexual) reconfigurou-se  como sendo um acto entre parentes e filhos (através de estupros ou de forma aceitada), a nudez foi levada até aos padres nas capelas e estes rompem com as devoções, promessas feitas durante a sua consagração (atrasada dizem os Homens sobre a igreja católica que não quer autorizar o casamento dos padres, talvez por isso irmãs ficam gravidas e padres acumulam filhos, sem falar dos papas, cardeais que fazem coitos com criancinhas – só visitando a pesquisa do “The Boston Globe” para estar um pouco a par do assunto que trouxe à tona numerosos membros da igreja que abusavam de crianças), o que leva A. DE ST. EXUPÉRY a dizer que “Hoje o cristianismo se tornou um elemento conservador”, mas tal conservadorismo põe em causa os próprios valores morais do cristianismo.
Não discutir a moral significa que preferimos a galinha do ovo, sem saber que do ovo a galinha nasce, ou é escolhermos o ovo em detrimento da galinha, sem saber que da galinha o ovo é tirado. Ou seja, os problemas que se tem debatido na actualidade parecem, de algum modo, uma continuidade de uma cegueira mundana que não percebe que sem incluir os aspectos morais em suas decisões e ensinamentos, os Homens continuaram a ser o que o mundo ou vivencias lhes ensinaram a ser.
Escrevo este pensamento lembrando-me da ideia de que a moral não é totalitária. Ou seja, o considerado moral num local pode não ser aceite numa outra região. Porém, tal facto não ridiculariza o pensamento de que a moral aceite em determinados locais, comunidades, precisa ser ressuscitada e colocada na mesa de debate para que se possa perspectivar o rumo das sociedades.
Uma sociedade moralmente destruída é uma sociedade jogada no abismo, colhendo de suas insanidades e resultados de suas próprias criações. Neste sentido, problematizar a existência (actualmente) dos defensores da moralidade, significa questionar se percebemos que o mundo já redefiniu a moral, ou ainda, se percebemos que a moral cívica aprendida nas escolas precisa ser levada a sério para formar-se indivíduos que moralmente e de forma ética se definem na sociedade.
Acredito, na verdade, que o vício pela política vai aos poucos quebrando com a moralidade e vai tornando os indivíduos Homens de elevada fidúcia que os faz crer que o mundo é tão cego para não perceber que é manipulado e engarrafado em cada promulgação das leis.  
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A moral já não é debatida de forma exaustiva. Ela não é tida como um tema da atualidade e assim se vai rompendo com a construção de um Homem “correcto” que respeite as normas que regulam a sua vivencia na sociedade.
Quando falo do respeito, falo também do respeito pelas diferentes escolhas na orientação sexual. Não vou dizer “minorias” porque a comunidade LGBT como sabemos é de tal forma tão grande que não pode, na minha perspectiva, ser tratada de minoria. É preciso que seja rompido o termo “minorias” porque isso faz da comunidade LGBT uma comunidade amedrontada, menosprezada, indefesa. As pessoas são livres para tomarem decisões, vivemos em países livres constitucionalmente, e ela a (constituição) já defende todos indivíduos, assim como a Declaração Universal dos Direitos Humanos preconiza.
Será que podemos dizer que estudamos, nos manuais, uma moral atrasada/ultrapassada que precisa ser redefinida? Ficamos tão cegos que a própria cultura, tradição, dos nossos povos ridiculariza e distorce a essência de uma moral.
A moral é em si uma contradição. Ora vejamos: seria imoral dar pena de morte ou seria moral deixar livre o indivíduo que mata, estupra, esfaqueia e arquiteta mortes em grande escala? Então, podemos dizer que a moral não é objectiva, há nela uma subjectividade que, por vezes, a torna ilusória.
Seria, neste caso, a moral um tema para distração das sociedades ou uma utopia que serve para ditar regras? Se em Deus os crentes encontram a totalidade da moral, onde os ateus buscarão tal conhecimento?
Paul Eugene Charbonneau In “Moral Conjugal do século 20”, quando retrata sobre a teologia moral, a moralidade do cristianismo, faz-nos perceber que um problema moral é um problema de razão e agir e ser, e que provavelmente a actualidade esteja distraída numa moral da ambiguidade, aliado ao pensamento de Sartre ao afirmar que “estou plenamente convencido que toda moral é ao mesmo tempo impossível e necessária”.
Debater a ética e moral (ética está associada ao estudo fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade, enquanto a moral são os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada sociedade) impõe-nos o desafio de problematizar as ações humanas, o civismo, a conduta, costumes, como o caminho que nos levará, provavelmente, a um esclarecimento sobre a pertinência do debate sobre os mesmos.
Enquanto os Niilistas morais sustentam que qualquer conversa de uma moralidade objetiva é incoerente, o físico Sean Carroll acredita que conceber a moralidade como uma ciência poderia ser um caso de imperialismo científico e insiste em que o que é "bom para criaturas conscientes" não é uma definição de trabalho adequada de "moral", tais pensamentos que reforçam, de algum modo, a perspectiva de Charbonneau quando declara que “a moral se transforma então numa espécie de contabilidade um tanto duvidosa do bem e do mal, do mérito e demérito”, sustentando seu pensamento na ideia segundo a qual “o dogma e a mal estão de tal forma congelados que mais parecem petrificados ou mortos”.
Se para Para Kant, a moralidade seria o ir além da natureza e o homem, capaz de ir além da ordem natural, seria capaz de se autolegislar, sendo a autonomia o foco da moralidade, então, podemos crer que a moral não é imutável, ou ainda, podemos recorrer a George Luckacs quando diz que a liberdade seria, pois, negar a existência de uma moral objectiva.
Um dia, Dostoievski dissera que: “pude perceber perfeitamente, pela primeira vez em minha vida, que eu não compreendia nem sentia o bem e o mal, que não somente eu havia perdido a noção deles que o bem e o mal, em si, mas existiam (o que era bastante agradável para mim), que eram apenas preconceitos, que eu poderia certamente libertar-me de todos os preconceitos, mas que, se eu conseguisse essa liberdade, estaria perdido”.
Esta aparente contradição no pensamento de Dostoievski faz-nos repensar em Jacques Leclerco que acredita na ideia de que “ a ciência moral consiste, de um lado, em determinar os princípios e, de outro lado, em determinar as regras que permitirão a aplicação desses princípios aos casos particulares. A arte moral é de fazer essa aplicação”. Mas perceber Leclero é ao mesmo tempo voltar a frisar a ideia de uma moral ilusória que se desconhece no seio das sociedades, mas também é invocada quando a atitude humana se sobrepõe aos preceitos que o mundo os considera de corretos.

Sérgio dos Céus Nelson

Podemos debater a moral no século 21? 

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Frente aos factos

Sobre o autor do blog

Sérgio dos Céus Nelson

Communication Officer at Lúrio University Journalist. Freelancer. Activist of Human Rights. Photographer

Communication and information specialist. Journalist. Writer. Screenwriter. Researcher. Motivator. Volunteer.

Founder of the Association of Environmental and Human Rights Journalists - AJADH and the Literary Association of Arts and Culture of Mozambique (ALARCUMO).

Contact: (+258) 829683204 or 846065018/879877312

Skype: Sérgio dos Céus Nelson

Journalist with Honorable Mention in the International Prize for Human Rights Journalism, by the Association of Public Defenders of the State of Rio Grande do Sul (ADPERGS) - Brazil.

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